Todas as emoções não são iguais nem encontram o mesmo grau de aceitação em nossa sociedade. A emoção mais aceita é a felicidade, basicamente porque é um sinal de segurança e êxito. Por isso vemos-nos obrigados a fingir felicidade; respondendo que estamos bem e sorrimos, mesmo que por dentro estamos destroçados.

A tristeza, entretanto, está catalogada como uma emoção negativa, uma emoção que se deve esconder e que, inclusive, deveríamos nos envergonhar dela. As expressões de tristeza como: ombros caídos e olhar choroso são considerados sinais de debilidade e insegurança.

É injusta uma sociedade que exige que sempre estejamos felizes e dispostos a ganhar o mundo. Porque não funcionamos assim. Frequentemente nos entristecemos. Estigmatizar a tristeza só serve para nos fazer sentir pior, para que pensemos que não somos suficientemente fortes para aguentar os problemas.

Entretanto, na realidade as pessoas que expressam sua tristeza e choram têm maior equilíbrio emocional do que aquelas que reprimem as lágrimas e escondem seus sentimentos. Um provérbio irlandês diz que “As lágrimas derramadas são amargas, mas mais amargas são as que não se derramam”.

Por que as pessoas que choram são mais equilibradas emocionalmente?

 1. Não reprimem suas emoções

Quando você se sente eufórico esconde o seu sorriso? Se escuta um som alto na sua casa a noite, você se assusta?  Só as pessoas seguras de si mesmas, com Inteligência Emocional, são capazes de reconhecer suas emoções e expressá-las, mesmo que estas sejam consideradas “negativas”. É necessário muita coragem para nadar contra a corrente e expressar quem você realmente é ou como se sente nesse momento. Na verdade, o filósofo Sêneca afirmou que “Não tem maior causa para chorar que não pode chorar”.

Manter a mente fria e reprimir as emoções têm um grande custo. Não é só para nossa saúde psicológica como também a saúde física. Numerosos estudos vinculam a repressão emocional com um maior risco de desenvolver enfermidades como, por exemplo, asma, hipertensão e patologias cardíacas. Curiosamente, um estudo realizado na Universidade de Stanford descobriu que as pessoas que costumam reprimir suas emoções agem ante a pressão e ao estresse de maneira exagerada.

2. Aproveitam as lágrimas para mudar a perspectiva 

Você sabia que as lágrimas aliviam o estresse, a ansiedade, a dor e a frustação? As lágrimas não são somente a água para limpar a alma, mas também para limpamos os nossos olhos e permitir-nos ver a situação a partir de outra perspectiva. As lágrimas nos fortalecem e nos permitem crescer.

70% das pessoas pensam que chorar é reconfortante. E que o choro nos permite ver a situação numa perspectiva mais positiva. Quando terminamos de chorar, nossa mente se encontrar mais clara. E em poucos minutos seremos capazes de analisar a situação a partir de outro ponto de vista. Isto se deve porque nossas emoções se equilibraram e nossa mente racional está preparada para entrar em ação.

3. O choro é terapêutico?

Sabia que o choro estimula a liberação de endorfinas em nosso cérebro? E que nos ajudam a aliviar a dor e também fomentam um estado de relaxamento e paz? É por isto que depois de chorar, nos sentimos melhores e tranquilos. Na verdade a pesquisa verificou que não é conveniente cortar o choro, mas deixar fluir porque a primeira fase só tem um efeito ativador, mas a segunda fase tem um efeito calmante que reduz a frequência cardíaca e respiratória. Às vezes, o choro é mais benéfico que o riso.

Um estudo realizado na Universidade da Flórida, descobriu que o choro é profundamente terapêutico. Principalmente quando se une com um “remédio relacional”, ou seja, quando se aproxima outras pessoas e estas nos consolam. Verificou-se também que o choro triste, esse que está destinado a criar novos vínculos depois de uma perda, tem um poder catártico.

4. Não se submetem às expectativas sociais

As pessoas que não têm medo de chorar se sentem mais livres, são capazes de expressar-se sem se verem pressas pelos convencionalismos sociais. Essas pessoas não têm medo de decepcionar aos demais nem de mostrar a sua suposta “debilidade”, porque na verdade ela não existe.

As pessoas que choram são mais verdadeiras e não querem se ver maquiadas pelas expectativas sociais. Essa consciência as levam a serem mais livres e a levar uma vida segundo as suas próprias regras. Tais pessoas são verdadeiros “ativistas” que lutam por uma sociedade mais saudável emocionalmente e não se vêem obrigadas a esconder o que sentem.

5. Conectam-se emocionalmente por intermédio das lágrimas

O choro é uma das expressões mais íntimas dos nossos sentimentos. Quando choramos na frente de alguém, é como se estivéssemos desnudando nossa alma. Por isso, as lágrimas ajudam a criar um conexão especial.

Quando a outra pessoa “aceita” a nossa tristeza, sem tentar fugir dela ou nos blindar com palavras de alento. Simplesmente, essa pessoa, nos apoia e se mantém ao nosso lado;  cria-se uma conexão única. Na verdade, uma das funções das lágrimas é precisamente a de pedir ajuda, mesmo que seja de maneira indireta, mostrando nossa impotência para que os demais nos cerquem e nos confortem.
Portanto, o choro e a tristeza não devem ser percebidos como um sinal de fraqueza, mas sinal de fortaleza interna. Não choramos porque somos fracos ou incapazes. Choramos porque estamos vivos e não nos envergonhamos de expressar nossos sentimentos.
Como dizia o poeta argentino Oliverio Girondo:
 
Chorar a lágrima viva, chorar a choros. Chorá-lo todo, mas chorá-lo bem. Chorar de amor, de cansaço e de alegria”.

 

Fontes das pesquisas:

Hendriks, M.C.; Rottenberg, J. & Vingerhoets, J.J. (2007) Can the distress-signal and arousal-reduction views of crying be reconciled? Evidence from the cardiovascular system. Emotion; 7: 458–463.
Rottenberg, J.; Bylsma, L. M. & Vingerhoets, J. J. (2005) Is Crying beneficial? Current Research in Psychological Science; 17(6): 400-404.
Levoy, G. (1988) Tears that Speak. Psychology Today; 22(7/8): 8- 10.
King, A. C. et. Al. (1990) The relationship between repressive and defensive coping styles and blood pressure responses in healthy, middle-aged men and women. J Psychosom Res; 34(4): 461-471.





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