Como construir relacionamentos duradouros com base na ciência e no afeto? Durante séculos, o amor romântico foi envolto em uma névoa de mistério e destino. Herdamos da cultura popular a ideia de que o amor verdadeiro simplesmente acontece, como um raio que nos atravessa, irresistível, mágico, arrebatador. Essa visão, porém, ignora as complexas camadas emocionais, psíquicas e históricas que moldam os vínculos humanos.
Na psicanálise, aprendemos que amar é, antes de tudo, uma construção. Desde os primeiros cuidados na infância, vamos tecendo uma linguagem emocional feita de desejo, angústia, ausência e presença. Nossos modelos de apego, as frustrações precoces e as experiências de perda influenciam profundamente nossa capacidade de nos vincular no amor adulto. Amar, portanto, exige revisitar o passado, elaborar feridas e aprender a sustentar a convivência, não apenas o encantamento inicial.
Sob uma perspectiva existencial, o amor maduro se constrói a partir da escolha e não da idealização. Não basta “sentir”, é preciso decidir permanecer, cultivar, renovar. Em um mundo que incentiva relações descartáveis e afetos rápidos, aprender a amar é também um ato de resistência. Significa desacelerar, cuidar, ouvir, ceder e crescer ao lado do outro.
É nesse contexto que o psicólogo norte-americano Robert Epstein, psicólogo pesquisador sênior da Scientific American Mind, apresenta uma tese provocadora e libertadora: o amor romântico é uma habilidade que se aprende. Ao contrário do que se pensa, não é um dom ou uma sorte do acaso, mas algo que pode ser desenvolvido com intencionalidade, prática e autoconhecimento.
Epstein argumenta que, assim como aprendemos a tocar um instrumento ou dominar uma língua, também podemos aprender a amar melhor. Para ele, a paixão não é um estado mágico e passageiro, mas uma construção relacional que se aprofunda com o tempo, desde que cultivada de forma ativa e consciente.
Essa perspectiva encontra eco em uma pesquisa publicada pelo The Guardian em 2006, na qual casais que viviam em casamentos arranjados relatavam, com o tempo, níveis crescentes de satisfação emocional e íntima. Curiosamente, muitos afirmaram sentir mais amor e prazer conjugal do que casais que se uniram por paixão súbita. O estudo apontou que, quando há esforço mútuo, respeito, diálogo e construção de intimidade, o amor pode emergir e florescer, mesmo que não tenha começado com paixão arrebatadora (The Guardian).
10 formas de cultivar um relacionamento duradouro
Com base nas pesquisas e orientações de Robert Epstein, aqui estão dez práticas que ajudam casais a fortalecer os vínculos e prolongar o prazer e a cumplicidade:
- Cultive a intimidade emocional diariamente
Compartilhar pensamentos, medos e alegrias constrói uma base de confiança. A intimidade não é espontânea: ela se nutre com presença e escuta ativa. - Pratique o toque consciente
Carinhos, abraços e afagos cotidianos liberam ocitocina, o “hormônio do vínculo”, promovendo conexão e bem-estar mútuo. - Aprimore sua comunicação
Saber expressar necessidades sem acusar, e ouvir sem se defender, é uma das habilidades mais importantes nos relacionamentos. - Sejam parceiros na vida prática
Dividir tarefas, tomar decisões juntos e respeitar o tempo do outro fortalece o sentimento de parceria e pertencimento. - Crie rituais de presença
Pequenas rotinas como tomar café da manhã juntos ou caminhar à noite, funcionam como estruturas afetivas que conectam o casal. - Busquem crescimento individual e conjunto
Um relacionamento saudável respeita a autonomia e celebra as transformações de cada um. Crescer juntos é também dar espaço para o outro florescer. - Gerenciem conflitos com maturidade
O problema não é discutir, mas como se discute. Trocar agressões por escuta e responsabilização é um exercício de amor e respeito. - Invistam na vida sexual com abertura e curiosidade
A sexualidade se transforma com o tempo e exige diálogo, empatia e liberdade para explorar o desejo de forma segura e respeitosa. - Pratiquem a gratidão relacional
Agradecer pelos gestos do cotidiano fortalece o vínculo. Pequenas palavras têm grande potência afetiva. - Lembrem-se do porquê estão juntos
Em momentos difíceis, reconectar-se com a história do casal, com seus valores e com os sonhos que os unem pode renovar o compromisso afetivo.
Em suma: amar é construir com o outro, todos os dias
Na visão psicanalítica, não há amor sem elaboração. Um casal é formado por duas histórias emocionais complexas, com feridas, defesas e desejos. A convivência amorosa, por isso, exige um pacto, não de perfeição, mas de compromisso com o cuidado mútuo.
Nenhuma relação se sustenta apenas no “sentir”. É preciso que ambos estejam dispostos a trabalhar pela saúde do vínculo, como quem cuida de um jardim: com constância, presença, escuta e renúncias mútuas. O amor não sobrevive ao abandono cotidiano, mas floresce no esforço partilhado de criar, juntos, uma vida que faça sentido.
Fontes consultadas: