“A vida escolar das crianças sofreu um terremoto nos últimos dois anos. As que se alfabetizaram na pandemia foram especialmente muito prejudicadas. Tenho visto inúmeras crianças pressionadas por terapias, reforço escolar, explicadoras, famílias ansiosas e muito estresse. E talvez esse não seja o melhor caminho.

A maioria das escolas, na sua ânsia de cumprir currículo, olham quase unicamente para o desempenho cognitivo e aprendizagem de conteúdos. No entanto, outras questões importam: o relacionamento com os amigos, a ocorrência de bullying, as habilidades sociais e corporais.

Diante disso, quero propor uma reflexão que na minha experiência já ajudou dezenas de crianças com problemas sérios na escola. É importante levar em conta a saúde mental e emocional. O bem estar integral do seu filho é mais importante que a sua “performance”.

Vários estudos mostram que crianças que são bem mais novas que os colegas de turma têm pior desempenho, aprendizado, vão pior nos esportes e são mais frequentemente vítimas de bullying, especialmente na Educação Infantil e no Fundamental I. É óbvio: 8, 10 meses nessa idade fazem muita diferença no desenvolvimento cognitivo, social, emocional e físico. Mais tarde, essa desvantagem vai se diluindo.

Imagine um menino de 5 anos que convive com outros que tem quase 6. Muitas vezes sua capacidade de aprendizado pode ser tão boa ou melhor. Mas talvez seja muito pior no futebol, na conversa, na inteligência social e na maturidade emocional. Com isso, ele sofre de diversas maneiras (exclusão, zoação, queda da autoestima), e tudo isso acaba afetando também sua capacidade de aprendizado e, claro, sua saúde mental.

Isso é mais comum entre meninos, mas também acontece com meninas, às vezes de modo mais sutil. Por isso, se seu filho estiver sofrendo, avalie (junto com a escola) se não é o caso de repetir a série em que está. Se for, quanto mais cedo isso acontecer, melhor. Ele pode não gostar no início, mas a sensação de bem estar que terá na nova turma, com habilidades semelhantes às dos colegas, prevalece rapidamente. E que prejuízo pode haver nisso? Afinal, vai fazer muita diferença se ele fizer o ENEM com 16 ou 17 anos?”.

Texto do pediatra, palestrante e sanitarista Daniel Becker.






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