Eternamente jovem e intransigente. Também divertido, sedutor, simpático e sempre pronto para animar as festas. Mas geram sofrimento na vida do casal porque não conseguem montar um projeto compartilhado, rejeitam qualquer sacrifício e não têm autocrítica. Essas são características que descrevem homens – e mulheres também, embora em menor proporção – que sofrem da chamada síndrome de “Peter Pan”.

O termo foi criado em 1983 pelo psicólogo Dan Kiley e atende às condições do caráter infantil da história do escritor escocês James M. Barrie. “Peter Pan” não quer crescer e desfruta permanentemente das incríveis aventuras na “Terra do nunca”, habitada por ele e pela gangue dos “Garotos perdidos”. Especialistas da Associação Psicanalítica Argentina (APA) consultados pelo Clarín explicaram que esse caráter admite reflexões sobre os processos de desenvolvimento e maturidade do ser humano.

Homens “Peter Pan” idealizam a juventude, têm dificuldades para crescer e desistir de ser crianças para exercer o papel de pais. Eles se recusam a envelhecer: o comportamento deles é como o de um adolescente. Eles podem atingir a idade adulta, ter 30, 40, 60 anos ou mais, mas não atingem a maturidade. Eles são rebeldes, narcisistas, dependentes e manipuladores; também são inseguros e sofrem de solidão. Eles mudam de parceira continuamente e geralmente têm disfunções sexuais: geralmente pouca atividade sexual e uma tendência a ter um relacionamento amoroso sem erotismo. Eles também constituem um importante setor de consumo: os homens morrem por consoles de jogos, por exemplo; e mulheres para roupas, tatuagens e tratamentos rejuvenescedores.

As necessidades do homem “Peter Pan” estão em primeiro lugar e geralmente são atendidas por outra pessoa. Seu núcleo social é formado por pessoas mais jovens. E eles precisam de muito carinho. Eles geralmente sofrem crises de ansiedade e estados depressivos temporários. Especialistas acrescentam que esses eternos adolescentes escondem uma teia inconsciente intrincada, de angústia, velhos medos e culpas que os impedem de assumir responsabilidades adultas.

Na história da eterna criança também aparece outra síndrome, a “Wendy”, que é complementada por “Peter Pan”, e define mulheres que agem como mães desse tipo de homens. “Elas fazem de tudo para evitar a rejeição emocional de seu parceiro; elas têm a necessidade de serem aceitas. Seus comportamentos implicam um complexo de inferioridade que as leva a perdoar e justificar tudo, mesmo que sofram e não gostem”, afirma a psicóloga Adriana Guraieb. “As Wendys são as mães que bancam tudo, entendem, cuidam e protegem os homens que não querem crescer. Em suma, conseguem controlar a vida do casal”, acrescenta o psicanalista Ricardo Rubinstein.

Como promover a maturidade ou a transição saudável adolescência-adulto?

Um psicólogo americano chamado Dan Kiley, em 1983, escreveu um livro chamado “Peter Pan Syndrome, homens que nunca cresceram”. Neste livro além de descrevar as características ou consequências da imaturidade pessoal, descreveu também 6 maneiras de evitar e abordar a situação:

1 – Delegar responsabilidades: A melhor maneira de lidar com a irresponsabilidade é com responsabilidade, e não é precisamente com discursos eternos e repetitivos, mas atribuir responsabilidades e parar de “salvar” o outro das conseqüências da não-conformidade.

2 – Deixe-o ficar chateado: ficar chateado é uma reação emocional normal e individual, a única pessoa responsável pela raiva de alguém é ela mesma. Permita que fique chateado e se acalme novamente sozinho. Dessa forma, podemos aprender a cair e levantar novamente.

3 – Permita o tédio: a melhor maneira de perder o medo da solidão é enfrentá-lo; Além disso, as situações de maior criatividade acontecem quando não nos distraímos com ocupações ou planos. Lembre-se que se de vez em quando você escolher não fazer nada, o mundo não terminará.

4 – Estabeleça prazos e compromissos: Estabelecer limites e objetivos permite que você veja os compromissos mais como passos para alcançar algo maior que os obstáculos à liberdade. Além disso, isso permite proteger a dignidade das pessoas em relacionamentos afetivos.

5 – Implementar a cultura avaliativa: A cultura avaliativa é ver os fracassos como pistas para melhorar e fazer uma versão melhor de nós mesmos. Porque reconhecemos nossos erros, mesmo quando os outros os apontam, podemos identificar onde podemos melhorar. Se todos disserem que está tudo bem, nada pode ser melhorado.

6 – Promova atos de serviço: As possibilidades podem ser muitas, desde o voluntariado em uma fundação de crianças de baixa renda, até pequenos atos como preparar o café da manhã, cuidar de alguém próximo a você que esteja doente, entre outros. Isso nos permite reconhecer o valor do outro e do nosso como iguais.

Todos os aspectos que podem girar em torno do processo de amadurecimento pessoal, nascem principalmente na família, mas mais do que uma síndrome ou transtorno, são os obstáculos que surgem no processo de crescimento pessoal que todos nós temos, crescer é simplesmente entender que há uma maior liberdade, mas que junto disso vem uma maior responsabilidade. Não se trata de “matar” nossa criança interior, trata-se de nos dar a oportunidade de desfrutar de cada estágio da vida.

Fontes estudadas: Clarín e Psicología con Propósito






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