A violência contra a mulher, embora seja freqüente, não é algo novo, podendo ocorrer em qualquer camada social, independente de condição socioeconômica e/ou grau de instrução. No entanto, este tipo de violência muitas vezes por ser corriqueiro, passa despercebido, banalizado ou normatizado, e conseqüentemente velado, invisível. Na realidade, qualquer tipo de violência, seja de que tipo for, trata-se de violação da dignidade, da ética e do respeito aos Direitos Humanos dos cidadãos.

Além disto, a violência contra a mulher não se trata apenas de um problema social e jurídico, mas também de saúde pública em que agressões sobrepostas e acumuladas, dependendo de sua gravidade e continuidade, podem ocasionar distúrbios mentais, afetivo-emocionais, problemas de incapacidade física, muitas vezes com danos irreversíveis. Embora a violência de gênero possa ser executada por ambos os sexos, os homens são predominantemente os agressores (em 80% dos casos).

Mesmo assim, com toda a problemática desvelada e evidente aos olhos públicos, as mulheres normalmente são tidas como culpadas pela violência praticada contra elas mesmas, sendo algo inadmissível. Neste estereótipo, são elas que não apresentam comportamento adequado, que não correspondem às expectativas criadas pela sociedade patriarcal e nem aos papéis de conduta que lhes foram impostos. São elas que muitas vezes não se submetem aos desejos, caprichos e ordens que lhes foram e continuam sendo determinados, e por este motivo são classificadas como rebeldes, precisando de dominação e correção, merecendo “justa punição”, ou pior, puro descaso.

Há mulheres que se sentem inadequadas e com sentimento de culpa por não corresponder a estas expectativas da masculinidade hegemônica, sofrendo conseqüentemente uma marginalização não somente social, mas por compactuar da crença de que elas próprias estariam infringindo regras e padrões sociais por não corresponder aos papéis pré-fabricados para elas e por elas tantas vezes pouco questionados- perpetuando a violência e tornando-a transgeracional. Faz-se necessário quebrar paradigmas, desconstruir preconceitos e proceder à construção de novos valores mais humanos e salutares. E para este fim, proceder a uma percepção mais criteriosa destas construções do “ser mulher”, estruturadas sócio-historicamente através da sociedade patriarcal é o primeiro passo para a sensibilização e percepção mais acurada do lugar que a mulher ocupa e compartilha, seja no espaço social que na vida privada.

No caso especifico da violência doméstica, gostaria de ressaltar que esta geralmente chega sorrateira, com expressões menos agudas e conseqüências menos graves, que com o tempo tendem a ser percebidas como normais, se enraizando, se cronificando e fazendo parte do cotidiano dos parceiros. O problema é que esta tende a se reiterar e agravar-se, seja na violência em si como em suas conseqüências. O que inicia com chantagem, humilhação e desvalorização veladas, passam para desprezo ostensivo, posteriormente um empurrão, um puxão de cabelos ou beliscões e que vai se delineando com características mais incrementadas, mais rebuscadas, como tapas no rosto, socos, pontapés, surras, quebra de membros, o que pode gerar incapacitação da mulher, podendo chegar até a morte. Temos muitos casos…inúmeros exemplos na mídia e em nosso cotidiano próximo.

Vale à pena salientar que normalmente a violência física pode estar sobreposta a outros tipos de violência, como a psicológica, a sexual, patrimonial, moral, entre outras. Ter uma percepção acurada e um olhar crítico de agressões consideradas “de menor magnitude”, no início de suas manifestações e tentar erradicá-las através do diálogo, buscando diagnosticar o(s) fator(es) propulsor(es) do problema, bem como fazendo o parceiro refletir sobre seu comportamento violento, podem ser tentativas frutiferas para quebrar o ciclo da violencia, visto que esta é sempre violência, não importando se é um empurrão, comportamento de controle, desvalorização ou da quebra de um membro, esta deverá sempre ser erradicada do convívio dos parceiros. Seria interessante a busca de apoio profissional, como uma Terapia de Casal para compreender como se processa a dinâmica relacional, seus mecanismos e possíveis soluções.

Enquanto esta negociação não acontece, para dirimir conflitos e estruturar relações simétricas, de igualdade e respeito, algumas sugestões seriam: tentar buscar apoio da família e amigos (em situação de violência conjugal, geralmente a parceira é afastada da família, circulo de amigos e rede de apoio social), buscar apoio de Instituições Governamentais e Não-governamentais para pedir ajuda ou prestar queixa. Algumas mulheres se abstém de prestar queixa contra seus parceiros por medo de represálias.

Ao final deste artigo, disponibilizarei alguns contatos como telefones e endereços uteis como forma de apoio e acolhimento neste processo tão dramático da vida de tantas mulheres em situação de violência.

Onde e como denunciar a violência contra a mulher?

No Brasil: 

Telefone: Secretaria da mulher- Disque Denuncia: 180 – Serviço gratuito, funcionando todos os dias, inclusive nos finais de semana. Horário de Atendimento: A qualquer hora. Este Serviço ajudara a vítima de violência quanto aos encaminhamentos e procedimentos legais cabíveis de acordo com cada situação e gravidade.

Sites: Campanha do Laço Branco: www.redesaude.org e CFEMEA: www.cfemea.org.br

Em Portugal:

Telefones: Serviço de Informação a Vítimas de Violência Doméstica – 800 202 148
Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) – 707 200 077
Associação de Mulheres Contra a Violência – 213 802 160

Aplicativos no celular: AppVD (Apoio de violencia doméstica): Este aplicativo é gratuito e seu dowload pode ser feito diretamente no celular. Através do dispositivo a pessoa faz a queixa de forma rapida e segura.

Sites: APAV PT: www.apav.pt

Policia: http://www.psp.pt/Pages/programasespeciais/violenciadomestica.aspx?menu=2






Soraya Rodrigues de Aragão é psicóloga, psicotraumatologista, escritora e palestrante. Realizou seus estudos acadêmicos na Unifor e Università di Roma. Equivalência do curso de Psicologia na Itália resultando em Mestrado. Especializou-se em Psicotraumatologia pela A.R.P. de Milão. Especializanda em Medicina Psicossomática e Psicologia da Saúde - Universidad San Jorge (Madri) e Sociedad Española de Medicina Psicosomática y Psicoterapia.   Sócia da Sociedade Italiana de Neuropsicofarmacologia e membro da Sociedade Italiana de Neuropsicologia. Autora do livro Fechamento de Ciclo e Renascimento: este é o momento de renovar a sua vida. Edições Vieira da Silva, Lisboa, 2016; e do Livro Digital: "Transtorno do Pânico: Sintomatologia, Diagnóstico, Tratamento, Prevenção e Psicoeducação. É autora do projeto "Consultoria Estratégica em Avaliação Emocional'.