Muitas pessoas usam o silêncio como uma ferramenta para expressar sua raiva, sua inconformidade ou apenas para dar uma lição aos outros. Assim, quando estão com raiva, “pune” o outro deixando de falar com ele com a intenção de que assim ele “caia na real” e reconheça seus erros. Mas esta é uma boa estratégia? O que realmente está por trás de tal silêncio? Vamos explorar a psicologia por trás do tratamento do silêncio.

Especialistas comportamentais afirmam que há muita diferença entre decidir ficar um instante em silêncio para evitar uma discussão febril e em agir como uma criança emburrada e, a partir de um certo ponto, ficar totalmente em silêncio como sinal de punição à outra pessoa. Esse tipo de comportamento é uma atitude manipuladora, agressiva e infantil. Falta de inteligência e maturidade emocional para lidar com a frustração e o estresse afetivo emocional.

Embora algumas pessoas possam pensar que ficar em silêncio é tomar o caminho certo, na verdade pode ser a pior coisa que você pode fazer. Pode deixar repercussões psicológicas e emocionais significativas na pessoa que recebe. Ficar em silêncio pode ser extremamente doloroso, pois envolve a perda de conexão, amor, intimidade e, às vezes, até da participação familiar. Também pode parecer injusto e cruel, levando à raiva e a mais brigas.

Usar o silêncio como punição é uma forma de abuso emocional

Um dos principais problemas de usar o silêncio como punição é que, para o receptor, pode parecer uma punição ou uma ação de controle, que está à mercê da pessoa silenciosa. Usar o silêncio como punição pode ser um ato deliberado e decretado com algum prazer e crueldade, razão pela qual é nomeado como indicador de relacionamentos abusivos, considerado uma forma de violência doméstica.

Usar o silêncio como punição também não beneficia a pessoa que fica em silêncio. Ainda que ela possa estar se sentindo emocionalmente sobrecarregada e acredita que se ela ficar em silêncio fará a outra pessoa deduzir, “adivinhar” o que está em sua mente e o que ela quer dizer com o silêncio, esse recurso é danoso, imaturo e abusivo. O ideal é pedir uma trégua até que os ânimos estejam controlados e tentar uma nova etapa de diálogos.

Quando o silêncio se torna prejudicial aos relacionamentos?

Embora seja compreensível que uma pessoa use breves silêncios para organizar seus pensamentos antes de responder em uma discussão, os conflitos podem continuar por mais tempo do que o necessário se, ao invés de usar o tempo para o dialogo, usá-lo para nutrir mágoas e ruminar sobre o que aconteceu.

A insistência nesse tipo de comportamento pode criar um grande desequilíbrio afetivo no relacionamento. Se a única maneira de quebrar o silêncio for a pessoa que recebe fazer todo o trabalho para consertar, pedir desculpas, fazer promessas, possivelmente oferecer sexo ou o que for preciso, o ressentimento poderá surgir.

Embora às vezes usar o silêncio seja apenas uma forma de curto prazo para se acalmar, usa-lo como punição se torna um problema quando é deliberado para infligir dor, vencer a discussão e impor o domínio das próprias vontades.

Como lidar com o comportamento de tratamento silencioso em seu relacionamento

O diálogo claro é importante em qualquer relacionamento. Alguns indivíduos podem concentrar-se mais na qualidade da comunicação em ligações íntimas e ter expectativas mais elevadas em relação a parceiros românticos do que com a família ou amigos, mas a importância da comunicação vai além disso.

“A comunicação é o que mantém os casais na mesma página e com a sensação de que estão resolvendo problemas juntos, e não um contra o outro”, diz Sarah Epstein, terapeuta matrimonial e familiar licenciada na Filadélfia e em Dallas. A comunicação eficaz também permite que os parceiros discordem de forma produtiva e respeitosa, acrescenta ela.

Certas habilidades são necessárias para manter canais de comunicação abertos que permitam que os relacionamentos prosperem, seja com um parceiro romântico ou com outra pessoa. Então, o que você faz se você ou seu parceiro usarem o tratamento do silêncio de uma forma não tão aceitável?

1. Identifique isso como um problema: Fale sobre como o silêncio é uma estratégia de enfrentamento que vocês precisam considerar não usa-la na relação.

2. Conheça o seu gatilho e dê um nome a ele: Antes de ‘ficar em silêncio’, diga ao seu parceiro: “Sinto-me sobrecarregado e preciso de algum tempo para me recuperar”. Desta forma, o receptor sabe o que aconteceu. Combine quanto tempo você levará para se recuperar, de preferência que não passe de uma hora. Comunique que você estará de volta em um determinado período de tempo para continuar a discussão e volte quando disser que irá, para promover a confiança.

3. Use o tempo separado para ambos se acalmarem: Não use o tempo para ficar ruminando algo que o feriu, nem gaste o tempo planejando como você pode ferir também. Em vez disso, se acalme e descubra o que você pode dizer seja útil para o bem-estar do relacionamento.

4. Procure ajuda profissional: Se você identificou um padrão repetitivo de ocorrência disso, talvez seja hora de procurar assistência profissional para obter mais estratégias de resolução de conflitos. Vocês pode fazer isso juntos ou separadamente. Seja como for, é certo que os bons ventos começarão a sopra-los a caminho de uma relação sensata e cheia de cumplicidade, respeito e afeto.

Artigo escrito a partir dos saberes de Sue Johnson,(capa) professora, doutora em psicologia com mais de 30 anos de pesquisa e prática sobre relacionamentos amorosos. Ela é diretora e fundadora do Centro Internacional de Excelência em Terapia Focada nas Emoções, que conecta mais de 7 mil membros por 40 países. Atualmente vive em Ottawa no Canadá.






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