Se Elis Regina estivesse viva completaria 75 anos neste 17 de março de 2020. Ela nasceu em Porto Alegre, em 1945,  e faleceu em São Paulo, no dia 19 de janeiro de 1982, com 36 anos. Sua morte prematura causou tamanha comoção nacional que até hoje não conseguimos acreditar.
Elis é considerada, por muitos, como a melhor cantora do Brasil. A sua história virou série de TV, está disponível na Globo Play.  Há dois livros com sua biografias: “Nada Será Como Antes”, escrita pelo jornalista Julio Mesquita, e “Elis e eu”, série de relatos assinados por João Marcelo Bôscoli. Em suas páginas, o filho da cantora revela detalhes íntimos, com uma sensibilidade ímpar, dos 9 anos que passou ao seu lado. Ambos estão disponíveis nas livrarias
Mas vai um resumão aqui:

Foi no fim dos anos 1950 que o pai da jovem Elis Regina Carvalho Costa decidiu fazer as malas da filha e levá-la da fria Porto Alegre. Seu destino era o Rio de Janeiro. Àquela altura já passava por sua cabeça a dimensão do talento da garota, mas era preciso expandi-lo, compartilhá-lo. Talvez a única coisa que ambos não soubessem é que uma vez projetada, ela seria considerada décadas adentro a maior cantora do Brasil.

Tendo Ângela Maria, Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan e Billie Holliday como suas grandes influenciadoras, Elis cantou o Brasil de cabo a rabo e fez com que sua voz imponente, afinadíssima, se transformasse em sinônimo de sensibilidade. Em suas interpretações, nada rebuscado: cantava para as massas, tanto para o trabalhador que conta lorotas ao fim do dia na mesa de bar, quanto para a dama apaixonada que sofre com um band-aid apertado na pista de dança.

Vivendo sua glória máxima nos anos 1970, interrompida por um trágico acidente, ela também narrou os horrores do exílio e o temor das ruas, penitências impostas pela ditadura militar. Entre a bossa, o samba, o rock e o jazz, essa piscina intensa, conhecida também pelos mais próximos como “pimentinha”, fez parte da nossa história. Se estivesse viva completaria 75 anos nesta terça-feira (17).

A fim de honrar alguns de seus melhores trabalhos, nós listamos seis álbuns essenciais para conhecer ou mesmo celebrar a obra desta lenda. Serve para todos os dias, sejam eles de quarentena ou não.

Essa Mulher (1979)

O último LP de inéditas lançado por Elis, “Essa Mulher”, chegou às lojas em 1979. O título é autoexplicativo. Trata-se de um disco maduro, em que sua narradora, embevecida em amor, mostra sua fragilidade por meio de letras que exaltam majoritariamente o sofrimento, mas que jamais abandonam a elegância. Elis conduz sambas alegres na mesma frequência em que expõe feridas, como acontece em “O Bêbado e a Equilibrista”.

Sobre esta faixa é preciso contar uma história: obrigada a cantar em um evento da ditadura militar, a artista foi alvo de críticas bastante duras do cartunista Henfil, que a acusou de ter se aliado aos militares. Em uma charge publicada poucos dias após o evento, ele desenhou a lápide da cantora dando a entender que para ele e todos aqueles que se opunham à truculência do regime, ela havia morrido.

Tempos mais tarde Elis venceria o medo da repressão, que a acuou principalmente por conta dos filhos pequenos, e passaria a lutar no front de batalha. Tanto que entrou em estúdio para gravar o single assim que a lei da Anistia foi proclamada, transformando-o em um de seus hinos. O trecho “Brasil que sonha com a volta do irmão do Henfil”, que faz referência ao exilado Herbert José de Sousa, seu irmão, veio como um pedido de desculpas.

Elis (1974)

Nos anos 1990 Björk veio ao Brasil e teve a oportunidade de se encontrar com o filho mais velho de Elis Regina, João Marcello Bôscoli. Questionado sobre esta ocasião, Bôscoli contou à rádio Jovem Pan que viu a cantora abraçá-lo e cair no choro enquanto dizia que sua mãe mostrava ao cantar “uma coragem emocional para ir a lugares que ela não conseguia”. A paixão pelo trabalho da musa foi tamanha que naquela mesma época a islandesa entrou em estúdio para regravar o clássico “Travessia”, contido no disco “Elis” (1974).

Vamos endossar a afirmação de Björk. Abrindo os trabalhos deste álbum, sua intérprete original constrói uma história de resiliência, mas não sem antes rasgar o próprio peito. O pranto e a vontade de morrer após um término vão pouco a pouco dando lugar a um senso de reconstrução que só o amor pode proporcionar. De “Elis” (1974), que está disponível na Deezer, Spotify e Apple Music, vale destacar ainda “Conversando no Bar”,  O Mestre Sala dos Mares” e “Dois Pra Lá, Dois Pra Cá”, esta última um bolero delicioso.

Elis (1972)

Provavelmente um de seus melhores álbuns, “Elis” (1972) foi produzido pelo pianista e compositor César Camargo, que à época era seu companheiro. Colocando voz em composições de Tom Jobim, Chico Buarque e Milton Nascimento, três dos mais brilhantes autores da chanson brasileira, a artista criou aqui uma das sequências mais matadoras de toda a MPB. “20 Anos Blue”, “Bala com Bala”, “Nada Será como Antes”, “Águas de Março” e “Casa no Campo” são faixas que entraram para a história. Uma curiosidade sobre este disco está na afinação vocal de Elis, que não requereu nenhum tipo de corretor. Todas a sua tracklist foi gravadas no primeiro take.

Elis & Tom (1974)

De fato, 1974 foi um ano brilhante na carreira da pimentinha. Entre os meses de fevereiro e março ela fez as malas e foi para Los Angeles, nos Estados Unidos, onde gravaria um projeto ambicioso. Na ocasião, Elis ganhou da gravadora Philips um presente por seus dez anos de contrato: a oportunidade de colocar vocais seus em um álbum colaborativo com Tom Jobim. “Elis & Tom” reúne vários clássicos da bossa nova, trabalhados com instrumentos elétricos até então inéditos, como o piano e a bateria. Suave e delicado, este projeto entrega canções canônicas como “Águas de Março”, que dispensa apresentações. Sucesso de venda e crítica, até hoje este é um dos trabalhos mais aclamados da música nacional.

Falso Brilhante (1976)

Em 1975 Elis Regina estreou um espetáculo em São Paulo chamado “Falso Brilhante”. Com o intuito de contar sua história pessoal e artística, o show também trazia duras críticas à ditadura militar, que vivia seu auge, mescladas a uma estrutura circense. Com direção cênica de Myriam Muniz e direção musical de César Camargo, foram dois anos em cartaz e mais de 250 apresentações apenas na capital paulista. Embora seu título tenha vindo do bolero “Dois Pra Lá, Dois Pra Cá”, o show teve um repertório inédito e incluiu desde canções como “Gracias a La Vida”, da chilena Violeta Parra, até “Como Nossos Pais”, de Belchior. Tornou-se uma febre, e teve parte de seu set registrado em estúdio. Mais uma vez certeiro, “Falso Brilhante”,  foi gravado em dois dias. Forte e direto.

Transversal do Tempo (1978)

Apesar de “Falso Brilhante” ter sido considerado o show mais elogiado da carreira de Elis, o espetáculo que faria na sequência também marcaria sua trajetória. “Transversal do Tempo”, gravado no Teatro Ginástico do Rio de Janeiro entre os dias 6 e 9 de abril de 1978, é sem sombra de dúvida seu disco mais político e inclinado para o rock. Disponível na Deezer, Spotify e Apple Music, ele nos conta entre outras histórias a dos sofridos boias-fria (“O Rancho da Goiabada”), a dos que menosprezam a cultura nacional em meio à cafonice (“Querelas do Brasil”) e, mais uma vez, dos que resistem ao autoritarismo (“Deus Lhe Pague” e “Cartomante”). “Transversal do Tempo” é um recado de Elis que se estende até o presente. “Nos dias de hoje é bom que se proteja“.

As informações contidas no texto foram extraídas do site Papel Pop – Abaixo uma seleção com os maiores sucessos de Elis Regina.






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