Congresso Internacional do Medo

Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,

não cantaremos o ódio, porque este não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte.
Depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas

Em “Congresso Internacional do Medo” a quantidade de léxicos que estão no mesmo campo semântico dos sentimentos (“amor”, “ódio”, “medo”) que se distinguem entre si no contexto do poema e observamos que o substantivo abstrato “medo” prevalece, pois há um destaque maior para esse sentimento e o título apenas ratifica essa afirmação “Congresso Internacional do Medo”. A partir desse título, verificamos que se trata de um sentimento específico do Brasil, mas do mundo como um todo – internacional. Logo, o medo, para o poema, é universalizado.

O medo está vigorando em vários lugares e em várias ações, por isso, não seria conveniente tratar do “amor” ou do “ódio”, mas deve-se comentar sobre o medo, desse sentimento que gera desequilíbrio, angústia, dúvida insegurança e serve, paradoxalmente, como um verdadeiro pai e seguidor, devido do contexto social da época, pois o período que o poema foi escrito tinha um pano de fundo em clima de Guerra mundial, túmulo, morte, dor, sofrimento e muito medo. Trata-se de um medo de tal força que esteriliza os braços (estanca a força humana), pois se vive em um mundo que está em caos: com ditadores, soldados, mortes e esses fatores deixam as pessoas desequilibradas e apavoradas.

Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira do Mato Dentro – MG, em 31 de outubro de 1902. Alvo de admiração irrestrita, tanto pela obra quanto pelo seu comportamento como escritor. Carlos Drummond de Andrade morreu no Rio de Janeiro RJ, no dia 17 de agosto de 1987, poucos dias após a morte de sua filha única, a cronista Maria Julieta Drummond de Andrade.

Biografia transcrita de Releituras






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