Li por aí que é proibido fazer textão sobre este ano. Por outro lado, minha timiline está enfestada de posts questionando o que fizemos de melhor, o que aprendemos com esse período,, o que queremos para 2021. Pensei, pensei e nada. É como se minha mente tivesse dado um branco. A sensação que tenho é que essa parte do calendário nunca existiu. Logo uma combinação numérica que nos prometeu tanto. [adinserter block=”4

Meu ano começou bem. Estava decidida a só ter por perto quem somasse comigo e busquei me acertar com quem por acaso eu tenha magoado. Na faculdade, apesar de alguns imprevistos, tudo certo. Matérias interessantes, vínculos estabelecidos, obstáculos transformados em pequenas conquistas para a vida e o currículo. De bônus, o trajeto de ida e volta até o campus era feito com uma amiga, o que nos rendia mais momentos juntas.

Março, porém, veio a declaração da Organização Mundial da Saúde de ser uma pandemia e tudo aquilo que já conhecemos: quarentena, gel, máscara, incertezas, medo, mais perguntas que respostas… Não sei você, mas depois de um tempo senti o baque. Queria sair, encontrar meus amigos, abraçar meus amados. Agradecia por estar bem, mas me angustiava pelo resto. Fiquei com raiva dos que poderiam fazer alguma coisa e tratou a questão com negligência.

Se alguém no futuro quiser saber quais são minhas melhores lembranças de 2020, terei poucas passagens para contar. Por sorte ou graças as precauções tomadas na medida do possível, não precisei me despedir de ninguém próximo por causa do vírus. No entanto, confesso que em certos dias fui dormir chorando em silêncio. Ler sobre episódios históricos e participar de um tem uma diferença bem grande.

Por outro lado, refletindo melhor, tem uma coisa que aprendi com esse ano fantasma sim. Aprendi a demonstrar meu afeto de coração aberto à alguém enquanto essa pessoa está aqui. E isso porque meu querido avô mudou-se de plano em meio essa loucura toda e mesmo não tendo nenhuma dívida sentimental com ele, o peito ainda aperta quando olho para frente e não o vejo presente. Às vezes 1 abraço e mais 3 palavras é tudo o que a gente precisa, né?

E falando em precisar, por mais que dezembro não seja minha época favorita do ano, porque prefiro o começo. Reconheço que precisamos nos agarrar a um mísero fio de esperança que seja. Neste caso, a certeza de que isso vai passar. Quando? Difícil dizer. O mundo será o mesmo? Provável que não. Mas passará. É nessas horas que vemos que as filosofias clichês são as mais sábias e nunca falham.

Texto de Juliana Santelli, estudante de jornalismo da PUC-Goías. Colunista do Portal Raízes.






Juliana Santhele é jornalista, jovem, negra, PCD. Colunista do Portal Raízes, ouvinte de podcast nas horas vagas, leitora do que chama a sua atenção. Autora do livro: "Entre Vistas" sobre a maternidade solo na sociedade brasileira pós-moderna (prelo).