Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a depressão, ou Transtorno Depressivo Maior, é um transtorno mental caracterizada por tristeza persistente, falta de interesse ou prazer em atividades anteriormente gratificantes ou agradáveis, pode causar insônia, falta de apetite, cansaço sem ter feito esforço, falta de concentração, isolamento, automutilação, choro fácil e ideação suicida ou prática suicida. Cerca de  5% da população mundial sofre com o transtorno depressivo maior. A depressão tem sido considerado a doença mais incapacitante do mundo e os seus efeitos podem ser duradouros ou recorrentes, podendo afetar drasticamente a capacidade de uma pessoa de funcionar e viver uma vida qualificada.

As causas da depressão incluem interações complexas entre fatores biológicos, genéticos,  sociais, psicoemocionais corroborados por eventos traumáticos ou não. A depressão é uma doença que pode e deve ser tratada com respeito à sua força e com a responsabilidade de quem entende que para vencê-la precisará se obrigar a lutar e a viver um dia de cada vez: se respeitando, se amando, se cuidando, se informando e obedecendo as orientações dos especialistas.

Estima-se que mais de 75% das pessoas que sofrem de transtornos mentais não recebem tratamento, pois é evidente que não há grandes investimentos públicos na saúde mental desde à infância até a vida adulta. Estudos apontam que países que investem na prevenção de doenças mentais desde a infância, reduzem significativamente a depressão e o suicídio. É importante dizer que a depressão não pode ser encarada como uma tristeza normal que acontece frente à momentos estressantes do cotidiano. A depressão é uma doença grave e se não for tratada corretamente pode trazer consequências severas.

Veja 3 consequências severas da depressão não tratada corretamente:

1 – Dependência de remédios, patologia e medicalização da tristeza

É preciso, acima de tudo, diferenciar tristeza normal de depressão. A tristeza, por exemplo, por ter perdido um ente querido é uma característica normal e saudável dos seres socioafetivos. O que diferencia a tristeza comum e normal do Transtorno Depressivo Maior  é o contexto em que os sintomas ocorrem, pois é exatamente a ausência de um contexto onde nada de extraordinário aconteceu, é o que faz com que os sintomas depressivos sejam considerados anormais.

A medicalização da tristeza normal é um negócio extremamente rentável e a sua associação com transtornos depressivos não se dá ao acaso. Esse movimento, político, social e econômico, tem produzido uma epidemia de diagnósticos e gera também uma epidemia de tratamentos, que nem sempre fazem bem à saúde, principalmente às pessoas que, na verdade, só estão vivenciando momentos difíceis dos quais não sabe como lidar.

A primeira edição do manual de Diagnóstico de Saúde Mental apresentava 100 transtornos mentais, o atual (DSM 5) tem mais de 300. Quem ganha com isso é a indústria farmacêutica, a qual investe na divulgação da falsa perspectiva de que a psicofarmacologia resolve todos os problemas humanos, incluindo aqueles ligados ao comportamento psicossocial. Isso produz a sensação de que os sofrimentos e dificuldades da própria vida podem ser evitados ou eliminados pela via medicamentosa, causando dependência química e anestesiando os pensamentos, os sentimentos, as emoções e o livre-arbítrio das pessoas.  É verdade que em alguns casos é preciso sim, tomar remédios. Entretanto, somente o psiquiatra poderá fazer essa avaliação.

2 – O desencadear de doenças físicas psicossomáticas e/ou hereditárias 

A depressão afeta muito mais do que o humor. Estudos mostram que a depressão corrobora para uma ampla gama de problemas físicos que afetam tudo, desde o coração até o sistema imunológico. Ela não causa apenas sintomas físicos, também pode aumentar o risco de – ou pode piorar – certas doenças ou condições físicas. Por sua vez, algumas doenças também podem desencadear a depressão e assim. Tudo isso pode levar a um ciclo vicioso difícil de quebrar sem tratamento para a depressão e outras doenças

Estes são alguns dos sintomas físicos mais comuns da depressão:

  • Fadiga crônica
  • Diminuição do interesse por sexo
  • Diminuição do apetite
  • Insônia, falta de sono profundo ou dormir demais
  • Aumenta os níveis de hormônios do estresse, como cortisol ou adrenalina
  • Afeta o sistema imunológico, tornando mais difícil para o corpo combater a infecção
  • A depressão também tem sido associada a doenças cardíacas e ao aumento do risco de abuso de substâncias lícitas e ilícitas
  • Aumento de dores crônicas, tais como fibromialgia, artrite, síndrome miofascial, lombar, cervical… (cerca de duas em cada três pessoas com depressão apresentam essas dores)

 Algumas doenças ou condições graves coexistem com a depressão:

  • Ataque cardíaco
  • Doença arterial coronariana (sem ataque cardíaco)
  • Mal de Parkinson
  • Doenças autoimunes, como esclerose múltipla ou lúpus
  • Derrame
  • Câncer
  • Diabetes
  • Doença renal

A depressão aumenta o risco de algumas dessas doenças, mas nem sempre. Por exemplo, não há evidências para apoiar a ideia de que a depressão leva ao câncer , embora os dois frequentemente coexistam. Ao mesmo tempo, é importante saber que a depressão não é um resultado inevitável de doenças graves como câncer e HIV , ou que não pode ser controlada.

Uma vez que você fica doente, como a depressão influencia o curso da doença? Por um lado, é mais provável que você desenvolva complicações. Isso pode ser verdade porque a depressão aumenta as mudanças físicas em seu cérebro e corpo. Se você já tem uma doença cardíaca , por exemplo, níveis mais altos de hormônios do estresse podem dificultar o reparo do tecido necessário ao seu corpo.

A depressão também pode tornar mais difícil seguir instruções, tomar medicamentos ou manter outros aspectos de um regime de tratamento. A dor, que é comum na depressão, também pode complicar o tratamento da depressão. Isso significa que pessoas com dor crônica tendem a ter piores resultados de depressão.

3 – O risco de suicídio 

Todas as pessoas que têm depressão podem cometer suicídio? Não. Entretanto, de acordo com uma recente revisão de 31 artigos científicos sobre suicídio, mais de 90% das pessoas que se mataram tinham algum transtorno mental como depressão, esquizofrenia, transtorno bipolar e dependência de álcool ou outras drogas. No Brasil, cerca de 11 milhões de pessoas foram diagnósticas com depressão, quase 6% da população. É o número 1 com maior prevalência da doença na América Latina, o 2 nas Américas, ficando atrás apenas dos estados unidos. A depressão é um transtorno mental grave com risco iminente de suicídio, e precisa ser visto como um problema de saúde pública.

Dentre sintomas recorrente da depressão, e enfatizo “recorrente”, estão:

  • ou a pessoa tem insônia ou dorme demais;
  • a pessoa não tem apetite nem mesmo para as coisas que mais gosta de comer: se ama mouse de limão, nem mesmo mouse de limão vai lhe motivar a comer;
  • a pessoa vivencia em si um sofrimento intenso do qual ela não sabe a origem;
  • ela sente uma espécie de angustia, uma sensação de que o coração está sendo esmagado ou está inflado constantemente;
  • ela tem vontade de chorar a qualquer momento, como se coisa alguma fizesse sentido para ela, não nunca está mental e emocionalmente onde o seu corpo está;
  • ela experimenta um desânimo inexplicável, o corpo, a mente e o coração são todos cansaço. Por mais estimulo que a pessoa receba, permanece apática mesmo tentando não ser. Por isso não consegue fazer atividades recreativas;
  • a pessoa começa a se sentir confortável somente quando se isola de tudo e de todos, e é nesse estágio que ela tende a se cortar ou se queimar. Em seu íntimo precisa – naquele instante – de um alívio à sua dor psíquica e para isso, opta pela automutilação.

Fatores que podem aumentar as chances de desenvolver a depressão:

  • Abusos: Sofrer abuso físico, sexual ou psicológico pode aumentar as chances de desenvolver a depressão e até o suicídio;
  • Medicações específicas: Alguns elementos químicos, como a Isotretinoína (usada para tratar a acne), o antiviral interferon alfa, e o uso de corticoides, podem aumentar o risco de desenvolver depressão;
  • Conflitos: A depressão em alguém que já tem predisposição genética para a doença, pode ser resultado de conflitos pessoais ou disputas com membros da família e amigos;
  • Morte ou perda: A tristeza ou luto proveniente da morte ou perda de uma pessoa amada, por mais que seja natural, pode aumentar os riscos de desenvolver depressão;
  • Genética: Um histórico familiar de depressão pode aumentar as chances de desenvolver a doença. É de conhecimento científico que a depressão é complexa, o que significa que podem haver diversos genes que exercem pequenos efeitos para o surgimento da doença, ao invés de um único gene que contribui para o quadro clínico;
  • Eventos grandiosos: Eventos negativos como ficar desempregado, divorciar-se ou se aposentar podem ser prejudiciais. Porém, até mesmo eventos positivos como começar um novo emprego, formar-se ou se casar podem ocasionar episódios depressivos.
  • Outros problemas pessoais: Problemas como o isolamento, causado por doenças mentais, ou por ser expulso da família e de grupos sociais, também podem contribuir para o surgimento da depressão
  • Doenças graves: Às vezes, a depressão pode coexistir com uma grande doença, como por exemplo, o câncer. Ou então, pode ser estimulada pelo surgimento de um problema de saúde
  • Abuso de substâncias: Aproximadamente 30% das pessoas com vícios em substâncias apresentam depressão clínica ou profunda.

O que fazer?

Depois que você observou que esses sintomas são uma constante em sua vida, você precisa de ajuda. Você até pode sair de uma depressão sozinho, mas isso depende muito de seu nível de força mental. Sozinho você pode correr, nadar, dançar, pintar, escrever, cantar, tocar um instrumento, lutar, fazer musculação, Yoga, meditação… tudo isso pode fazer o seu cérebro produzir oxitocina, serotonina, adrenalina… hormônios fundamentais para que se sinta feliz, energizado e cheio de amor para ofertar. Mas se você não conseguir fazer nada disso, não conseguir se mover sozinho em direção a sua autocura, não se isole na dor, busque ajuda.

Procure um profissional da psicologia ou psiquiatria. Eles farão o diagnóstico corretamente e apontarão os caminhos a seguir. Mas somente recorra a medicamentos quando todas as outras alternativas tiverem falhado e sob a estrita prescrição de um psiquiatra. Pois somente um psiquiatra pode prescrever antidepressivos. Atualmente tornou-se muito comum, os clínicos gerais, os neurologistas, os endócrinos e etc, passarem “calmantes” para seus pacientes. Isso é errado. Repito, a depressão é um transtorno mental grave que deve ser tratado por um profissional que passou anos estudando para isso. Somente ele poderá diagnosticar corretamente e dizer se você precisa de medicamentos ou não. Não vamos enriquecer a indústria farmacêutica tomando antidepressivos que causam dependência só porque o neurologista disse que precisamos dormir melhor para amenizar a dor.

Se ame acima de tudo. Ouça a voz interior que clama por socorro e aceite ser ajudado. É lindo o despertar para cura, para o desejo de ser curado. Abrace a sua dor psíquica, cuide dela, leve-a para ser amparada, cuidada, sarada. A culpa por estar doente das emoções não é sua. Você não merece esse “câncer” em sua alma. Você merece compreender que o seu cérebro passa por transformações terríveis ao longo da vida e você não pode controlar isso. O que você pode fazer, repito, é abraçar a sua dor e cuidar dela até que você consiga viver sem a constante presença dela. Até que a ausência dela lhe seja libertador.

Em suma, lembre-se do que nos ensinou Carl Jung, “o sofrimento precisa ser superado, e o único meio de superá-lo é suportando-o”.

Este texto é de autoria da escritora, neuropsicopedagoga, psicanalista, especialista em suicidologia: prevenção e pósvenção ao suicídio, Clara Dawn.






Clara Dawn é romancista, psicopedagoga, psicanalista, pesquisadora e palestrante com o tema: "A mente na infância e adolescência numa perspectiva preventiva aos transtornos mentais e ao suicídio na adolescência". É autora de 7 livros publicados, dentre eles, o romance "O Cortador de Hóstias", obra que tem como tema principal a pedofilia. Clara Dawn inclina sua narrativa à temas de relevância social. O racismo, a discriminação, a pedofilia, os conflitos existenciais e os emocionais estão sempre enlaçados em sua peculiar verve poética. Você encontra textos de Clara Dawn em claradawn.com; portalraizes.com Seus livros não são vendidos em livrarias. Pedidos pelo email: [email protected]