O abuso físico pode deixar cicatrizes físicas, enquanto o abuso emocional deixa cicatrizes psíquicas, mas e a negligência emocional? A ausência de suporte emocional na infância pode ser tão prejudicial e duradoura quanto outros traumas. Mas, como você não pode apontar exatamente onde e quando o ferimento aconteceu, pode ser difícil identificá-lo e superá-lo. A negligência emocional não é o mesmo que o abuso físicos e psicológicos, porque, ao contrário destes, a negligência emocional, na maioria das  vezes, não é intencional.

Embora alguns pais possam ignorar intencionalmente os sentimentos de seus filhos, outros podem não percebê-los, não decodificá-los… por pura ignorância ou por não se esforçarem para isso. Alguns, no entanto, mesmo amando muitíssimos os seus filhos, podem ter negligenciado quanto a dar importância as emoções não verbalizadas, não expostas de seus filhos.

É bem provável que pais negligenciadores emocionais não intencionais, tenham também passado pela experiência de terem seus sentimentos ignorados. E, por não terem bons exemplos de como tratar as emoções de uma criança, não sabiam como tratar as suas. Mesmo se eles tentassem corrigir os erros que seus pais cometeram, eles ainda poderiam ter falhado. Doença, morte, divórcio e perda de emprego podem levar os pais à negligenciar os sentimentos dos filhos. Porque nesses momentos os pais, focados em seus próprios dilemas existenciais, podem não atentarem a realidade que os seus filhos também estão inseridos na problemática e logo têm necessidades emocionais a serem discutidas, tratadas, sanadas.

Quando os pais invalidam as emoções dos filhos, consideram-nas excessivas ou de menor importância do que outros problemas, eles negligenciam a criança emocionalmente. Algumas frases que podem ser familiares para você se você foi vítima de negligência emocional na infância incluem: “Você não sabe o que é sofrimento de verdade”; “Não foi tão grave assim, não faça drama”; “Deixe pra chorar quando a vida te bater de verdade”; “Você não entende nada da vida”; “Você não tem nenhum problema, tá triste por que?”.

Quando seus pais não percebem, valorizam ou respondem às suas emoções, ou questionam suas emoções quando você as expressa, eles enviam involuntariamente uma mensagem de que seus sentimentos não importam ou que há algo errado com a maneira como você se sente . Para lidar com isso, você aprendeu a enterrar seus sentimentos ou a transformar uma emoção “inaceitável”, como a raiva, em uma emoção “aceitável”, como a ansiedade.

Isso parece descrever sua infância? Aqui estão 9 sinais de que você pode ter sofrido de negligência emocional na infância:

  1. Você tem medo de contar com os outros e rejeita ofertas de ajuda, suporte ou cuidado.
  2. Você tem dificuldade em identificar seus pontos fortes e fracos, gostos e desgostos e objetivos de vida.
  3. Você é mais duro consigo mesmo do que seria até com um estranho e carece de autocompaixão e compreensão.
  4. Você se culpa quase exclusivamente, dirige sua raiva para dentro ou sente culpa ou vergonha por suas necessidades ou sentimentos.
  5. Você se sente entorpecido, vazio ou isolado de suas emoções, ou se sente incapaz de controlá-las ou expressá-las.
  6. Você é facilmente oprimido e desiste rapidamente.
  7. Você tem baixa autoestima.
  8. Você é extremamente sensível à rejeição.
  9. Você acredita que tem falhas profundas e que há algo sobre você que está errado, embora você não possa nomear especificamente o que é.

Você pode se cuidar para que, de você, flua um ambiente familiar saudável

Você não tem culpa de ter nascido e crescido num ambiente familiar desestruturado emocionalmente, mas você pode se cuidar para que, de você, flua um ambiente familiar saudável. Se os sinais acima, lhe parecerem familiares e você acredita que foi vítima de negligência emocional na infância, há coisas que você pode fazer para se curar. Veja 4 delas:

1. Aprenda a reconhecer suas emoções: Se seus pais trataram suas emoções como se não fossem válidas ou essenciais, você pode ter problemas como adulto em identificar o que sente ou saber como se comportar quando emoções difíceis surgirem. Sem sentimentos, a tomada de decisões é quase impossível. O modo como nos sentimos direciona nossas escolhas. O que fazemos, aonde vamos, com quem passamos o tempo e até o que comemos são decisões tomadas por meio da emoção. Eles nos dizem como nos sentimos em relação ao nosso mundo, aos outros e a nós mesmos.

2. Identifique suas necessidades e peça a outras pessoas que as atendam: Você merece ter suas necessidades atendidas como qualquer outra pessoa. Comece pequeno, pedindo coisas que devem ser fáceis de conseguir. Por exemplo, peça um abraço de seu melhor amigo ou parceiro quando estiver triste, ou alguns momentos de silêncio quando chegar em casa do trabalho depois de um dia difícil.

3. Procure ajuda profissional: Um terapeuta não pode desfazer sua infância ou apagar erros que seus pais cometeram, mas pode fornecer a você ferramentas emocionais que seus pais não forneceram. Um bom terapeuta pode ajudá-lo a identificar suas emoções, pedir o que você precisa, aprender a confiar nos outros, construir autoestima, lidar com a rejeição, desenvolver amor próprio e muito mais.

4. Quebre o ciclo da hereditariedade da negligência emocional na infância: A negligência emocional na infância pode não deixar cicatrizes, mas causa danos reais às crianças que a acompanhará até a vida adulta, interferindo em sua saúde e inteligência emocional. Para se curar, você tem que tornar visível o que está invisível. Dê um nome, explore, aprenda com ele e se recupere. Enquanto faz tudo isso, vá observando o seu próprio comportamento em relação aos seus filhos. Se obrigue a escutá-los, a dar importância aos sentimentos deles por mais dramáticos e/ou pequenos que lhe pareçam. Aconselhe seus filhos a começarem a zelar pelas emoções dos filhos deles, desde o ventre materno, assim, o ciclo da negligência emocional será quebrado.

Texto da terapeuta matrimonial e familiar, Andrea Brandt. Ela acumula mais de 35 anos de experiência em terapia familiar, aconselhamento de casais, terapia de grupo e aulas de controle da raiva. Tradução e livre adaptação do Portal Raízes

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