O diagnóstico de TDAH pode ser um ato de libertação. Receber um diagnóstico de TDAH na vida adulta pode parecer, a princípio, uma sentença. Mas, na verdade, pode ser o início de uma libertação. É como se, depois de uma vida inteira tentando se encaixar em moldes que nunca serviram, alguém finalmente dissesse: “Você não está quebrado: só funciona de outro jeito”.

A jornada de Gabor Maté ao descobrir seu próprio TDAH na vida adulta

O médico e escritor Gabor Maté, em seu livro “Mentes Dispersas”, descreve a sua própria experiência ao receber o diagnóstico de TDAH já na vida adulta.  Ele conta que não encontrou nisso uma sentença clínica, mas uma chave interpretativa para a própria história. A revelação iluminou anos de inquietação, impulsividade e hiperfoco, não como falhas pessoais, mas como marcas de uma infância emocionalmente tensa, em que a mente precisou se dividir para suportar o que era insuportável.

Ele percebeu que sua dispersão não era defeito, e sim um mecanismo antigo de preservação psíquica. Ao compreender isso, passou a enxergar o próprio passado com mais compaixão, entendendo que o diagnóstico tardio não é um rótulo, mas um portal para a autocompreensão.

Maté transformou essa descoberta em pesquisa, escrita e clínica, mostrando ao mundo que reconhecer o TDAH na idade adulta não diminui ninguém: amplia. É o ponto onde a ferida deixa de ser um enigma e começa a se tornar caminho.

Segundo ele, o TDAH não é uma falha biológica, mas uma forma de resposta do cérebro a contextos emocionais, ambientais e afetivos vividos na infância. Ele nos convida a compreender que a neurodivergência não é uma doença, mas uma expressão legítima da diversidade humana.

O que muitas pessoas chamam de “distração” pode ser, na verdade, hiperatenção seletiva: uma mente que se conecta intensamente com o que ama e se perde diante do que não faz sentido emocional. O que se chama de “impulsividade” pode ser vitalidade reprimida, uma energia que nunca encontrou espaço seguro para ser canalizada.

Aceitar o diagnóstico não é se resignar: é se compreender com afeto. É parar de tentar se corrigir para caber no mundo e começar a ajustar o mundo para caber dentro de si. Em alguns casos, como lembra Maté, a medicação é uma aliada, não para “curar” algo que não é doença, mas para criar condições de equilíbrio e permitir que a pessoa exerça sua singularidade com mais presença e menos sofrimento.

No fim das contas, o diagnóstico não rotula. Ele liberta: porque dá nome ao caos, oferece sentido à história e, sobretudo, abre espaço para o amor próprio florescer no lugar onde antes havia culpa.

10 sinais de TDAH na vida adulta 

O TDAH adulto se manifesta de formas sutis e muitas vezes confundidas com traços de personalidade. Antes de qualquer autodiagnóstico, é importante lembrar que apenas um profissional capacitado pode avaliar cada caso. Entretanto, alguns sinais podem acender o alerta:

  1. Dificuldade de manter foco em tarefas rotineiras ou pouco estimulantes.
  2. Tendência a procrastinar até o limite do prazo.
  3. Perda frequente de objetos, compromissos e prazos.
  4. Mente constantemente acelerada, com vários pensamentos ao mesmo tempo.
  5. Hiperfoco em atividades de interesse, ao ponto de perder a noção do tempo.
  6. Sensação crônica de desorganização, mesmo com esforço para “se ajeitar”.
  7. Impulsividade em decisões, falas ou compras.
  8. Oscilações de humor e frustração fácil.
  9. Dificuldade em gerenciar o tempo e prioridades.
  10. Sentimento persistente de inadequação, culpa ou “fracasso”.

Esses sinais, quando persistentes e prejudiciais à vida pessoal ou profissional, merecem investigação clínica.

Quem faz o diagnóstico e onde buscar ajuda

O diagnóstico do TDAH adulto deve ser feito por psiquiatras ou neuropsicólogos, com apoio de psicólogos clínicos. O processo envolve entrevistas detalhadas, histórico de infância, avaliação de sintomas emocionais e, quando necessário, testes neuropsicológicos.

Buscar ajuda é um ato de coragem e autocuidado. Centros universitários, clínicas-escola e serviços públicos de saúde mental (CAPS) também oferecem avaliações acessíveis.

Quando o TDAH adulto precisa de medicação

Nem todos os casos requerem medicação. Segundo Gabor Maté, a farmacoterapia deve ser uma aliada, não uma muleta. Ela ajuda a reduzir a impulsividade e melhorar a concentração, mas não substitui o processo terapêutico e a reestruturação emocional.

A decisão de medicar deve sempre ser feita com acompanhamento médico, considerando histórico familiar, comorbidades e estilo de vida. A combinação de tratamento medicamentoso, psicoterapia e mudanças de hábitos costuma ser o caminho mais eficaz.

Como explicar às pessoas o próprio diagnóstico

Explicar o TDAH aos outros pode ser desafiador, principalmente porque ainda há muito preconceito e desinformação. Uma forma empática de abordar o assunto é dizer:

“Meu cérebro funciona de um jeito diferente. Às vezes é intenso, às vezes disperso. Mas agora eu entendo e estou aprendendo a lidar com isso”.

É importante lembrar que não é obrigação justificar-se o tempo todo. O diagnóstico pertence à pessoa e serve para ampliar a autocompreensão, não para caber nas expectativas alheias.

Falar sobre o TDAH com amigos e familiares também é uma forma de educar e humanizar o tema, ajudando a construir redes de apoio mais afetivas e respeitosas.

5 maneiras de autocuidado e autoaceitação

O TDAH adulto exige uma rotina que respeite o próprio ritmo. Abaixo, cinco formas práticas e terapêuticas de se acolher nesse processo:

  1. Organize-se de modo visual: quadros, aplicativos, listas e alarmes são aliados da memória de trabalho.
  2. Crie rituais de pausa: respire, mova o corpo, saia do piloto automático.
  3. Celebre pequenas conquistas: o perfeccionismo é inimigo da autoestima.
  4. Durma bem e alimente-se com atenção: o cérebro neurodivergente precisa de estabilidade energética.
  5. Procure ambientes que valorizem a criatividade: a mente TDAH floresce em contextos de liberdade, curiosidade e estímulo.

Quais as melhores terapias para quem tem TDAH

O tratamento psicoterápico é essencial. As abordagens mais eficazes costumam ser:

  • Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC): ajuda a criar estratégias práticas para foco, tempo e impulsividade.
  • Terapia Psicanalítica: favorece a compreensão das raízes emocionais do sintoma e o resgate da autoestima.
  • Mindfulness e Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT): ensinam a acolher pensamentos e emoções sem julgá-los.
  • Coaching terapêutico para neurodivergentes: auxilia na organização da rotina, metas e regulação emocional.

Mais importante do que a técnica é o vínculo terapêutico, o espaço onde a pessoa pode ser quem é — sem culpa, sem comparação e sem a exigência de “normalidade”.






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