Monja Coen, uma das vozes mais significativas do Zen Budismo Soto no Brasil, fala de transformação não como teoria, mas como quem atravessou incêndios internos e, ainda assim, escolheu recomeçar. Em seu livro Ponto de Virada, ela revela que encerrar ciclos não é um ato mágico nem repentino. A mudança verdadeira costuma brotar quando o sofrimento já não cabe mais no corpo ou quando finalmente percebemos que certos padrões, antes tão familiares, já perderam qualquer utilidade. É nesse instante de lucidez meio teimosa, meio libertadora, que nasce o gesto íntimo de virar a página.

“Mudar dá trabalho. Mudar exige que a gente deixe de ser quem foi por tanto tempo. Mas permanecer onde nos machuca é tortura”.

É exatamente aqui que a sabedoria da Monja Coen encontra o pensamento de Freud. Ele dizia que quando a dor de não estar vivendo é maior do que o medo da mudança, a gente muda. Aqui, minha Coen comunga com Freud na teoria de que a transformação integral do indivíduo, pode acontecer por intermédio de seu confronto com a dor.

Não imediatamente, mas com movimentos pequenos, cotidianos e possíveis, como a criança que aprende a andar: meio-passo, meio-passo. Claro, segundo ela, a mudança nos passos não é mágica, mas cada atitude em direção a si mesma instiga forças que se juntam para movimentos menos assustadores e mais naturais.

10 formas simples de mudar a partir do ponto de virada

Cada item é inspirado tanto na ideia de consciência e prática da Monja Coen quanto no entendimento freudiano de que mudar é um processo que começa quando reconhecemos a própria dor.

1. Observar sem fugir

Reserve alguns minutos para olhar para sua vida com honestidade. Monja Coen ensina que observar a própria mente é o primeiro passo. Sem observação, não há transformação.

2. Reconhecer onde dói

Freud lembraria que negar a dor só prolonga o sofrimento. Nomear o que dói já inicia o movimento de cura.

3. Praticar um pequeno silêncio diário

Pode ser um minuto. Pode ser cinco. Silêncio é uma forma de limpar o excesso de ruído interno e perceber o que está pedindo mudança.

4. Eliminar um hábito que aumenta a dor

Não precisa ser tudo de uma vez. Escolha uma repetição tóxica e experimente deixá-la ir por um dia. Só um. Depois outro. E outro.

5. Perguntar a si mesmo: e se eu fizer diferente hoje?

Essa pergunta cria fendas no automatismo que nos prende ao passado.

6. Buscar um gesto de autocuidado possível

Não precisa ser spa ou banho de luz. Pode ser água, descanso, um alimento mais leve, uma pausa. Pequenos cuidados reorganizam o corpo e a mente.

7. Criar um espaço que simbolize recomeço

Pode ser uma gaveta arrumada, um caderno novo, uma planta na janela. O ambiente importa.

8. Conversar com alguém que escuta de verdade

A mudança ganha força quando não caminhamos sozinhos. Um ouvido sincero pode ser o ponto de virada que faltava.

9. Aceitar que medo faz parte

A coragem não vem da ausência de medo, mas do movimento apesar dele. Freud compreendia o medo como parte do processo, não como obstáculo final.

10. Lembrar que recomeçar é uma prática contínua

Mudar não acontece num dia. Acontece um dia após o outro. Como a meditação, como a vida.

 

 






As publicações do Portal Raízes são selecionadas com base no conhecimento empírico social e cientifico, e nos traços definidores da cultura e do comportamento psicossocial dos diferentes povos do mundo, especialmente os de língua portuguesa. Nossa missão é, acima de tudo, despertar o interesse e a reflexão sobre a fenomenologia social humana, bem como os seus conflitos interiores e exteriores. A marca Raízes Jornalismo Cultural foi fundada em maio de 2008 pelo jornalista Doracino Naves (17/01/1949 * 27/02/2017) e a romancista Clara Dawn.