A Depressão é um distúrbio do humor cujos sintomas mais comuns são: tristeza, anedonia, letargia, auto desvalorização, cansaço constante, dificuldades cognitivas e vazio existencial. A Depressão está diretamente associada a um estado de isolamento e falta de produtividade, bem como de sentimentos de incapacidade, incompetência, frustração e fracasso.
De acordo com a terapia do esquema, formulada por Jeffrey Young em meados da década de 80, um esquema é ativado porque alguma necessidade evolutiva daquela criança não foi atendida, ou seja, necessidades emocionais não foram supridas naquela fase do desenvolvimento. Tenho observado em meus pacientes cuja queixa é a depressão algo em comum: a presença do esquema de fracasso e abandono ativados. E de fato, na história clinica desses pacientes sempre há muitas vivências de rejeição e abandono, havendo uma enorme relação entre fracasso, abandono e depressão. Uma pessoa deprimida observa o mundo sem cor, sem brilho, hostil e devastador.
Ainda de acordo com a terapia de esquemas, o esquema de fracasso se encontra no segundo domínio, o de autonomia e desempenho prejudicados e por esse motivo pessoas com esse esquema ativado sentem dificuldade em tomar decisões, esquivando-se de desafios, projetos novos e situações que necessitem de um comportamento ativo e decisivo da pessoa. Estas tendem também a se sentirem inseguras e se sabotarem em seus projetos, pois acreditam que qualquer tentativa será em vão, inclusive postergando tarefas importantes, o que promove um acumulo de atividades e menor possibilidade de execução das mesmas, retroalimentando o sentimento de ineficácia, insatisfação, incompetência e fracasso. Ao esquivar-se da execução de metas por medo do fracasso, a pessoa deixa de fazer suas realizações na vida, suas conquistas, o que vai enraizando e se comprovando mais a certeza da sua ineficácia, incompetência e fracasso. Esta retroalimentação se apresenta como fator de risco para o desenvolvimento de estados não somente depressivos, mas também ansiosos. Aliás, vale a pena salientar que depressão e ansiedade comumente estão associadas em um mesmo quadro clínico.
A origem do esquema de fracasso encontra-se na dinâmica das relações parentais, em famílias (pais) controladoras, e que impedem a individualidade, identidade, a autonomia e competência da criança. Em outras palavras, a criança não obteve o apoio adequado na execução de atividades de acordo com seu desenvolvimento cognitivo e psicomotor. Há falta de apoio, descrédito e até um certo “desprezo” dos pais ou cuidadores que podem compará-la com seus irmãos ou coleguinhas. Um exemplo: a criança já pode tomar banho ou vestir-se, mas os pais desaprovam o que a criança faz dizendo que está mal feito e que seria melhor que outra pessoa fizesse por ela, promovendo na criança uma sensação de falta de desempenho para tarefas que, do jeito dela, já poderiam ser executadas, tornando-a insegura, afinal de contas aprendemos através de ensaios, de erros e acertos, ninguém nasce pronto.
As comparações, as criticas destrutivas e a falta de autoconfiança provocam sensações desagradáveis na criança, pois se o adulto acredita que ela não é capaz de fazer algo, então porque essa criança acreditaria que seria capaz? Dependendo da idade, as crianças não apresentam ainda o crivo da criticidade para questionar o que os pais pensam dela, dos rótulos que lhes são atribuídos, sendo, portanto internalizado como verdadeiro e inquestionável por elas. Sentindo-se incompetente e acreditando que o que ela faz é ineficaz, a criança pode tornar-se ansiosa com seu próprio desempenho podendo hipercompensar. Tanto a hipercompensação como o autoboicote são comportamentos disfuncionais.
Muitas pessoas têm sentimento de fracasso, mas sequer tentaram, pois se queixam que não tem forças para tentar, além da convicção de que se tentarem, elas irão fracassar. Se a pessoa sequer tenta algo na vida e se sente fracassada, na realidade ela não está sabendo nomear o que sente, pois no caso não seria um sentimento de fracasso e sim de impotência para fazer algo ou tratar-se de procrastinação.
O esquema de fracasso e a depressão estão diretamente relacionados porque diante do fracasso há desmotivação, desesperança, autodesvalorização, avaliação negativa de si e da vida e do que se produz. Todo esse contexto é campo fértil para a evitação de estímulos que a pessoa acredita não poder controlar, desenvolvendo desta forma o desamparo aprendido. O resultado disso é que através da evitação ou esquiva, a pessoa vai restringindo as possibilidades de resolução de problemas e ampliação de seu repertório de habilidades, configurando o campo ideal para estados depressivos. Portanto, uma depressão diagnosticada em qualquer fase da vida pode ter uma relação direta com o esquema de fracasso e abandono ativados por necessidades emocionais que não foram atendidas na infância, sendo necessário investigar a história de vida do paciente desde a primeira infância, de modo a curar suas feridas emocionais e não somente os deflagradores ambientais do momento presente, não menos importantes também de serem trabalhados.
Texto da psicoterapeuta, expert em Medicina psicossomática, Soraya Aragão. Saiba mais sobre o seu trabalho aqui.





Soraya Rodrigues de Aragão é psicóloga, psicotraumatologista, escritora e palestrante. Realizou seus estudos acadêmicos na Unifor e Università di Roma. Equivalência do curso de Psicologia na Itália resultando em Mestrado. Especializou-se em Psicotraumatologia pela A.R.P. de Milão. Especializanda em Medicina Psicossomática e Psicologia da Saúde - Universidad San Jorge (Madri) e Sociedad Española de Medicina Psicosomática y Psicoterapia.   Sócia da Sociedade Italiana de Neuropsicofarmacologia e membro da Sociedade Italiana de Neuropsicologia. Autora do livro Fechamento de Ciclo e Renascimento: este é o momento de renovar a sua vida. Edições Vieira da Silva, Lisboa, 2016; e do Livro Digital: "Transtorno do Pânico: Sintomatologia, Diagnóstico, Tratamento, Prevenção e Psicoeducação. É autora do projeto "Consultoria Estratégica em Avaliação Emocional'.