Vivemos numa sociedade que venera o corpo, condena a alma á decadência e desconsidera a pessoa idosa. Nestes tempos hedonistas, as pessoas idosas são considerados os novos desvalidos do mundo, improdutivos e dispendiosos, que os governos do mundo todo, são obrigados, por causa dos Direitos Humanos, a sustentar. Sustento este que deveria (porque há condições) ser digno, honroso, altruísta e eficiente em termos gerais.

Entretanto, esse descaso com a pessoa idosa não foi sempre assim. Esta é uma moda das gerações pós-modernas. Nas sociedades primitivas, as pessoas velhas eram alvos de veneração. Os jovens a eles recorriam em busca de seus conselhos, eram respeitados e lhes confiavam negócios. Na antiga China, o filósofo Confúcio pregava que todos os elementos de uma família deveriam obedecer os mais velhos.

No século XVIII, o idoso era tido como patrimônio e não encargo

Em geral, as sociedades da antiguidade, consideravam o estado de velhice dignificante e adotavam como sábio aquele que atingia essa etapa. Passou s ser importante o papel de ancião, época terminal da vida, que aos que nela ingressavam era reservado um papel de intensa atuação nos destinos políticos dos grupos sociais e na tomada de decisões importantes.

Com a evolução e progressão em andamento e, fruto da revolução industrial, ocorre uma inversão de valores, em vez da sabedoria, passa-se a julgar o homem pela sua capacidade de produção -muito mais próxima do jovem – e, ao idoso começa a restar um lugar de exclusão e marginalização.

O que damos hoje à pessoa idosa é o que receberemos em nossa velhice

A humanidade atualmente é marcada pela qualificação do potencial da juventude em detrimento da velhice estabelecida por improdutividade e decadência. O fato de ainda não existir a integração de grupos etários mais jovens com os mais velhos, tem a participação de ambos os lados, em que associa-se a rejeição do idoso ao próprio envelhecimento, os valores que norteiam as gerações mais novas e a insistência dos mais velhos em manter e impor valores culturais do passado.

A integração do homem, nesta etapa de vida, deve equilibrar atividade e isolamento com atendimento às suas necessidades sociais no nível que promovam uma nova visão sobre a velhice e um novo espaço criado pela sociedade. O envelhecimento social nos aponta um percurso a percorrer na adaptação do idoso como meio social e passa por analisarmos com muito cuidado e zelo a perda de seu papel funcional-profissional e papel referente à família – função de responsabilidade.

As perdas desses papéis conduzem à inadaptações que levam ao isolamento social. Entretanto, toda vida importa. Esquecer sobre isso nos entorpece e perigosamente nos aproxima da sociedade distópica que Lois Lowry (capa) escreveu em seu livro “O doador de Memórias”, onde ela constrói um mundo aparentemente ideal onde não existem dor, desigualdade, guerra nem qualquer tipo de conflito. Por outro lado, também não há amor, desejo ou alegria genuína. Os habitantes de uma pequena comunidade, satisfeitos com a vida ordenada, pacata e estável que levam, conhecem apenas o presente – o passado e todas as lembranças do antigo mundo lhes foram apagados da mente. Um único indivíduo é encarregado de ser o guardião dessas memórias, com o objetivo de proteger o povo do sofrimento e, ao mesmo tempo, ter a sabedoria necessária para orientar os dirigentes da sociedade em momentos difíceis.

Pelo direito de envelhecer com dignidade

“As pessoas idosas são seres humanos como os demais. Possuidores dos mesmos direitos dos quais todos os outros são titulares. Acontece que ser velho não representa apenas ser velho. O velho não nasceu velho, ele foi criança, adolescentes, adulto para, finalmente, ser velho. Observe-se que se não são assegurados direitos elementares às pessoas quando ainda elas são crianças, adolescentes e adultas, elas simplesmente perdem o direito de se tornarem velhas e tornar-se velho é um direito humano fundamental, já que é a própria expressão do direito a vida, que precisa ser garantida até quando a natureza biológica indicar. Ademais, a velhice é ocorrência de condições sociais favoráveis de existência ou dos avanços da tecnologia médica ou ainda de ambos.

Se for resultado de condições dignas de existência, ótimo, o Estado cumpriu seu papel, se não, a dignidade humana está sendo aviltada, porque em modelo social tendo permitido que as pessoas vivam mais, precisa assegurar-lhes condições mínimas de existência, dentro das conquistas incorporadas ao patrimônio comum da humanidade. Sendo assim, a velhice é um direito humano fundamental, porque expressão do direito à vida com dignidade, direito essencial a todos os seres humanos. Ademais, a velhice cumpre uma função social de extrema importância, que é justamente a de facilitar a continuidade da produção humana na ordem dos valores, daquilo que pode justificar a vantagem de viver e assegurar a qualidade de vida”. (Ramos, 2002, 50).

Isso significa que essa luta pertence a todos. E não é uma luta pela sobrevivência individual, mas pela sobrevivência coletiva. Pela sobrevivência dos grupos mais vulneráveis. E pela sobrevivência do que resta de humanidade em cada um de nós. Porque, embora seja verdade que, em circunstâncias extremas, o pior das pessoas vem à tona, o melhor que temos lá dentro também vem à tona. A decisão é nossa.

 






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