A Sociedade do Cansaço (Burnout Society) é um livro do filósofo coreano Byung-Chul Han. Uma análise sobre as maneiras pelas quais o paradigma neoliberal extremo afeta o bem-estar psicológico do indivíduo nos tempos atuais. Han se pergunta: ‘será que o fato da sociedade atribuir ao ser humano, qualidades de um computador (multitarefa, velocidade, desempenho) não estaria assim causando o fenômeno generalizado de doenças neuropsicoemocionais?’.

Han analisa de forma patológica a sociedade, mostrando que ela sofre de uma série de males que variam de acordo com suas fases históricas. Suponhamos que doenças virais e bacteriológicas marcaram o século passado. Nesse caso, o século XXI é caracterizado por Distúrbios Neuronais, como Depressão, Transtorno de Déficit de Atenção, com ou sem, Hiperatividade (TDAH), Transtorno de Personalidade Borderline, Síndrome de Burnout, que é esgotamento mental causado pelo excesso de trabalho, entre outros.

Han disserta que a grande questão é que nenhuma dessas doenças específicas hoje é uma infecção, um vírus, uma bactéria. São, na verdade, doenças causadas pelo excesso de positividade e, por isso mesmo, nenhuma técnica imunológica se mostra eficaz para combatê-las.

No entanto, essa falsa ideia de todos devem estar felizes e bem sucedidos o tempo todo, produz no indivíduo a ansiedade de ter que explorar a sua condição de homem livre e, consequente, o sentimento de culpa quando não consegue. Resumindo: essa atitude não o deixa mais feliz, pelo contrário, o deixa muito menos feliz.

 A busca desenfreada pelo objetivo de ser socialmente aceito

Han considera a sociedade contemporânea a superação definitiva da sociedade disciplinar descrita pelo filósofo francês Michel Foucault, na qual os indivíduos se sentem observados e influenciados pelos vizinhos. Ele a chama de Sociedade do Desempenho, porque todos se juntam a uma busca desenfreada pelo objetivo de serem socialmente aceitos.

“A sociedade de hoje não é mais o mundo disciplinar de Foucault. Há muito que foi substituída por outro regime, nomeadamente a sociedade de estúdios de fitness, torres de escritórios, bancos, aeroportos, centros comerciais e laboratórios genéticos. A sociedade do século XXI não é mais disciplinar, mas uma sociedade do desempenho”, diz Byung-Chul Han

Essa corrida pela excelência leva a um novo tipo de depressão. O indivíduo não está deprimido por estar isolado, mas porque está muito conectado, muito livre e muito ativo. Ora, responder à natureza fugaz da vida com produtividade histérica, leva o indivíduo a se tornar o seu próprio servo, subjugado pelo seu próprio potencial produtivo e, consequentemente, pelo sentimento de ser uma fraude, um impostor – porque, é claro, ele não é uma maquina, um computador.

Retorno à vida contemplativa

O mito de Prometeu descreve a situação. O membro da Sociedade do Desempenho é ao mesmo tempo Prometeu, acorrentado à rocha, e o corvo que todos os dias o atormenta. A imagem é uma metáfora da relação entre o sujeito e si mesmo: uma relação de autos sacrifício, que leva ao cansaço sem fim e estéril.

Han prega a necessidade de retornar a um cansaço mais consciente, que se recupere depois de uma noite de sono. Segundo ele, isso é possível reavaliando a vida contemplativa dedicada aos instantes de fazer nada longe de tecnologias. Evitar o apelo urgente do mundo. Renovar as barreiras que delimitam as vaidades contemporâneas não significa ser menos livre, significa ser mais autêntico.

Outra abordagem significativa para viver nesta sociedade esgotada é cultivar uma cultura de autocompaixão e estabelecer limites. Num mundo que muitas vezes glorifica o excesso de trabalho e a produtividade constante, reconhecer os limites das próprias capacidades se torna crucial. Envolve compreender que, recuar e se permitir respirar e se recuperar não só é bom como é essencial. Esta prática de estabelecer limites é uma ferramenta poderosa para manter a saúde mental e prevenir o esgotamento.

Navegar nesta sociedade também requer uma abordagem consciente das nossas ambições. Em vez de sermos movidos pelo medo do insucesso, ou de não corresponder aos padrões sociais, precisamos nos motivar pela satisfação do nosso crescimento pessoal, nos comparando somente a nós mesmos. Essa mudança nos permite nos envolvermos em tarefas com propósito real e a satisfação em fazer, ao invés de buscarmos incessantemente validação externa.

Enfim, reservar um tempo para apreciar essa fascinante jornada de viver, pode ser um antídoto poderoso para manter os pés no chão e para encontrar alegria no presente, no lugar sempre procurar o próximo grande acontecimento. Porque procurar novidade em tudo, menos em si mesmo, é o seu erro rotineiro. (Compre o livro “A Sociedade do Cansaço” aqui)

 






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