Raisa Kravchenko, mulher com deficiência, ativista ucraniana da VGO, uma rede ucraniana de mais de 100 ONGs locais que apoiam pessoas com deficiência intelectual, mal conseguiu conter as lágrimas quando contou sobre um jovem com paralisia cerebral que, segundo ela, foi morto em um ataque aéreo russo perto de Kiev.

Raisa falou, de sua casa na Ucrânia, a repórteres em uma entrevista coletiva virtual que ficou para cuidar de seu filho de 37 anos que sofre de um distúrbio comportamental.

Como outros ativistas de deficiência, Raisa teme que mais dos 2,7 milhões de PCD (Pessoas Com Deficiência) na Ucrânia, morram ou sejam gravemente feridas enquanto a guerra continua e elas lutam para deixarem o país.

Em carta publicada no site International Desability Alliance (IDA), Yannis Vardakastanis, presidente da organização e do Fórum Europeu da Deficiência (EDF), disse: “estou profundamente preocupado com meus irmãos e irmãs (com deficiências) na Ucrânia que enfrentam múltiplas barreiras para acessar evacuação segura e assistência humanitária. Enquanto isso, meninas e mulheres com deficiência enfrentam o risco de violência sexual e de gênero”.

Uma crise humanitária dentro de uma crise

A International Disability Alliance disse que havia pouco apoio de evacuação para eles, e mesmo aqueles que conseguem chegar a centros de refugiados ou abrigos dentro ou fora do país enfrentam obstáculos: desde simples degraus em escadas até informações inacessíveis.

“Esta é uma crise humanitária dentro de uma crise”, disse seu chefe Yannis Vardakastanis. “A resposta humanitária deve fazer esforços específicos para identificar pessoas nessa situação”.

Sushkevych disse que a tentativa de fuga para pessoas com deficiência foi assustadora, com viagens de vários dias e grandes multidões nas estações de trem.

Não está claro quantos conseguiram fugir. Cerca de 5.000 crianças de orfanatos chegaram à Polônia e é provável que 10% delas sejam deficientes, disse a Inclusion Europe.

Daqueles que não podem deixar a Ucrânia, está se tornando mais difícil obter medicamentos, acrescentou Kravchenko.

O Fórum Europeu da Deficiência disse que dezenas de milhares de pessoas com deficiência vivem em instituições que “já foram isoladas de suas comunidades” e “correm o risco de serem abandonadas e esquecidas”.

10% dos refugiados são pessoas com deficiência

A sociedade civil apela à UE, aos governos nacionais e às organizações humanitárias para que intensifiquem os esforços para proteger os 2,7 milhões (6% da população) de pessoas com deficiência da Ucrânia que correm o risco de serem abandonadas, mortas ou ficarem sem abrigo durante a invasão da Rússia.

São necessárias ações urgentes e concretas para garantir às pessoas com deficiência o mesmo acesso aos serviços essenciais que seus pares, concluíram os participantes de uma conferência organizada pela EASPD , Inclusion Europe e EDF em 10 de março.

“Atualmente, vivemos assassinatos em massa de pessoas, e os mais vulneráveis ​​são pessoas com deficiência que estão em cadeira de rodas ou têm deficiência visual ou auditiva. Como eles chegam a um abrigo?” disse Valery Sushkevych, presidente da Assembleia Nacional das Pessoas com Deficiência Ucrânia.

“Cerca de 10% dos refugiados são pessoas com deficiência. Eles precisam de acomodações acessíveis, reabilitação, equipamentos e outros apoios”, disse Milan Šveřepa, diretor da Inclusion Europe, ao EURACTIV.

A falta de visibilidade

Apesar de representar 1 em cada 4 europeus, as pessoas com deficiência ainda carecem de visibilidade, o que é parcialmente responsável pela consideração inadequada dada na resposta humanitária à guerra, segundo Šveřepa.

“Espero que possamos chamar mais atenção sobre este tópico”, acrescentou Šveřepa. “Cada pouco ajuda porque as pessoas não têm ideia do que realmente significa para pessoas com deficiência poderem procurar abrigo ou evacuar ou algo assim”.

Os ministros da deficiência da UE reuniram-se em Paris na quarta-feira, 9 de março, para fazer um balanço da estratégia da UE para a deficiência e trocar as melhores práticas. No entanto, embora alguns ministros tenham feito intervenções na Ucrânia, incluindo a Polônia, um participante da conferência afirmou que a Ucrânia não estava na agenda e nenhuma declaração oficial foi feita.

Em uma nota mais esperançosa, Šveřepa disse que a proposta da Comissão Europeia de mudar o livro de regras de investimento estrutural da UE para ser mais flexível na ajuda a refugiados nos países da UE está “definitivamente indo na direção certa”.

“Estamos trabalhando 24 horas por dia para apoiar os mais necessitados na Ucrânia”, disse um porta-voz da Comissão ao EURACTIV.

A EDF, a Inclusion Europe e a EASPD também compilaram uma lista de recursos sobre como ajudar pessoas com deficiência na Ucrânia. Elas podem ser encontrados aqui , aqui e aqui.

Foto de capa: Um homem em uma cadeira de rodas, rodeado por ruínas, entulhos do que restou na cidade de Irpin, na Ucrânia, logo após os ataques russos. Shutterstock / Gota de luz

De Juliana Santelli, PCDF, estudante de jornalismo da PUC-GO, articulista no Portal Raízes.

Fontes pesquisadas:






Juliana Santhele é jornalista, jovem, negra, PCD. Colunista do Portal Raízes, ouvinte de podcast nas horas vagas, leitora do que chama a sua atenção. Autora do livro: "Entre Vistas" sobre a maternidade solo na sociedade brasileira pós-moderna (prelo).