Algumas pessoas fazem da queixa o motivo da sua existência. Essas pessoas não se queixam dos problemas da vida, mas vivem para queixar-se disso, daquilo, daquela, daquele, do dia, da noite, da chuva, do calor e até da felicidade alheia. O problema é que essas queixas não só as machucam, mas também as que as escutam. Na verdade, ouvir alguém reclamar sistematicamente, dia após dia, não é apenas exaustivo, mas também pode acabar “desligando” nossos neurônios.

Se as queixas de outras pessoas lhe estressarem, seus neurônios sofrerão as consequências

A chave reside no fato de que as queixas de outros nos causam estresse, especialmente quando estamos ativamente envolvidos na busca de uma solução. Normalmente uma pessoa queixosa não busca soluções aos seus lamentos, mas é implacáveis ao deixar claro seu desconforto, suas frustrações, seus medos, suas desconfianças…Uma pessoa assim nos deixa com a sensação de impotência, pois ela tem um problema para cada solução. Como resultado, acabamos estressados.

Quando ouvimos uma queixa, nosso cérebro geralmente interpreta isso como uma ameaça potencial e, portanto, desencadeia uma série de respostas fisiológicas para enfrentar essa situação. Então você diz para a pessoa: vai pela direita, e ela responde que pela direita tem cobras; daí você sugere a esquerda, mas ela afirma que já tentou a esquerda e caiu num buraco; você diz, então segue em frente, ela chora dizendo que não tem pernas; você a surpreende ao sugerir que ela volte, mas ela grita: jamais!

Depois de ficar ouvindo tudo isso o que acontece com os nossos neurônios?

O eixo hipotálamo-hipófise-adrenal é ativado e culmina com a liberação de cortisol da glândula adrenal. Normalmente, esta ativação serve para nos proteger e suprimir a ameaça, mas se o nível de cortisol permanece alto durante um longo período de tempo, a atrofia ocorre no nível neuronal, o que significa que os neurônios estão morrendo, literalmente.

Os neurocientistas da Universidade de Stanford foram os primeiros a testar os efeitos dos glicocorticóides secretados durante o estresse no cérebro. Eles descobriram que isso afeta o funcionamento de diferentes estruturas, incluindo o hipocampo, uma área ligada à memória e aprendizagem, onde a perda de neurônios acelerou.

Estudos mais recentes revelaram que o estresse também pode afetar os neurônios do córtex pré-frontal, a área relacionada ao controle de emoções e tomada de decisão. Também foi apreciado que, à medida que envelhecemos, nossos neurônios tornam-se menos resistentes ao estresse e perdem a capacidade de se recuperar dos danos causados ​​por ele.

Na verdade, sabe-se que o cortisol pode ter um efeito cascata sobre os caminhos neurais que correm entre o hipocampo e amígdala, que são essenciais para analisar o significado emocional das situações que enfrentamos diariamente. Desta forma, é criado um círculo vicioso que predispõe o cérebro a manter um estado constante de luta ou de voo.

O que é ainda pior, o estresse crônico ativa um tipo de “troca” nas células-tronco que as converte em um tipo de célula que inibe as conexões com o córtex pré-frontal, o que nos predispõe a sofrer problemas emocionais, como ansiedade, depressão e transtorno de estresse pós-traumático.

Em suma, ser “obrigado” a ouvir as queixas dos outros, quando não implicam um pedido de ajuda, nos obriga a permanecer em estado de desconforto, na qual não há rotas de fuga. Observamos a ameaça de impotência. E isso é o que acaba prejudicando nossos neurônios.

Como se proteger das queixas?

Raciocinar – buscar a verdade com auxílio da razão – sobre um problema, alimenta novas conexões e ativa neurônios. Analisar um problema significa tomar consciência das variáveis ​​envolvidas, das quais podemos tomar decisões e planejar formas de ação.

Durante este processo, o cérebro estabelece novas conexões neuronais que são o resultado da resolução ativa de problemas. Em outras palavras, aprendemos e desenvolvemos nossa flexibilidade cognitiva. Portanto, ajudar os outros a resolver conflitos é benéfico ao cérebro.

O que não é benéfico é tornar-se um receptáculo onde os outros depositam suas queixas e insatisfações. Tenha em mente que você não é um “caminhão de lixo” e que pessoa alguma tem o direito de fazer de você um receptáculo para seus lixos verbais, emocionais, tóxicos… Você precisa se polpar, se afastar de gente assim, porque na realidade elas não estão procurando soluções para seus problemas. Nesses casos, devemos aprender a assumir uma distância psicológica, o que nos manterá seguros contra o estresse. Afinal, ignorar o que não vale a pena não é apenas um sinal de sabedoria, mas às vezes é uma questão de sobrevivência psicológica.

Extraído de Rincón de la Psicología – Tradução e livre adaptação de Portal Raízes






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