Se é verdade que o cabelo é uma forma de expressão, o mesmo ocorre com a ausência dele. Seja para combater os padrões de beleza que dizem ser “feminina somente a mulher que ostenta belos e longos cabelos”, cortar os fios para experimentar e até mesmo para encontrar a si mesma é algo que vem ganhando cada vez mais destaque. A certeza de todas que passaram por essa mudança, é a de que essa experiência é libertadora. Foi o que aconteceu com a atriz Flávia Alessandra.

“Pra falar a verdade, é um cabelo que eu desejava fazia tempo.  Super acostumei. É muito gostoso. Estava louca para mudar logo e chegar nesse visual. Tem essa versatilidade, e é muito mais fácil de se brincar”,  disse à revista Quem na edição online.

De acordo com Flávia o corte é fácil, já que tem os cabelos lisos. “Acordo e nem penteio”, resumiu. “Eu acho o cabelo curto muito sensual e feminino. Eu acho a coisa mais linda a parte da nuca peladinha e também posso abusar dos decotes nas costas”. Analisou.

Uma mulher que corta o cabelo curtinho é considerada “corajosa”. Uma rebelde. Alguém que tem algo de diferente.

E daí surgem os questionamentos:

“Você queria economizar xampu?”, “você virou bi?”, “ah, mas já já cresce de novo”, “você tá com câncer?”; “O problema do cabelo ‘joãozinho’ é que aí você ter que estar sempre bem maquiada, porque a pele tem que estar boa, porque realça as espinhas”.

Curioso quebrar um padrão social e, ao mesmo tempo, se preocupar com outro, não?

O hairstylist Neandro Ferreira, que tem 30 anos de carreira e trabalha entre o Brasil e a Inglaterra, comenta que esse movimento de libertação dos cabelos já acontece há algum tempo em Londres, por exemplo, e percebe que aqui no país foi intensificado com a pandemia.

“Eu nunca cortei tanto cabelo assim como nesse momento em que estamos vivendo. As mulheres estão se libertando dessa coisa de só sentir feminina com cabelo longo ou de querer agradar ao homem. Ser feminina não está no cabelo, está na atitude, na alma. Então, elas estão mais abertas, menos ligadas aos padrões, às tradições e aos conceitos antiquados. E sentem sim uma liberdade enorme quando cortam o cabelo, é uma forma de se expressar”.

Outras atrizes que também já rasparam a cabeça ou parte dela

portalraizes.com - "Cortar os cabelos mexe no seu senso de personalidade, é libertador"

“Cortar os cabelos mexe no seu senso de personalidade, é libertador”, disse a atriz Déborah Secco depois de aderir ao look pixie

A grande transformação do cabelo de Deborah aconteceu por conta de sua personagem, Karola, em “Segundo Sol” (Globo). O corte radical, que levou a atriz a adotar o novo estilo, aconteceu diante das câmeras, e foi inspirado na modelo Stefanie Medeiros.

“Quando eu soube que teria de cortar o cabelo para a novela, me deparei com uma foto dela [Medeiros] no Instagram e fiquei fascinada. Eu falei: eu quero o cabelo dessa menina”. A atriz também disse que fez a cena do corte muito eufórica, mas muito feliz por ter a oportunidade de fazer essa transformação na frente do público.

Depois do fim da novela, a atriz ainda descoloriu os fios e experimentou um visual mais ousado. E ficou linda – mais uma vez!

“Sempre quis fazer, mas faltava um pouco de coragem, já que esse é o tipo de cabelo que precisa ter coragem para fazer. É um corte radical e uma cor radical”, disse Deborah na ocasião.

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Katy Perry adotou os fios curtinhos em 2017 e antes de mudar para o pixie hair que usa até hoje, raspou uma parte do cabelo.

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Rihanna é a rainha das transformações capilares (tanto no quesito corte quanto nas cores, vale dizer). Ela já bombou o look com o cabelo raspado várias vezes!

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A maioria dos homens preferem mulheres de cabelos compridos?

Então que eles deixem os seus cabelos crescerem. Pergunto-me o quão é frágil o conceito de masculinidade para precisar de um ícone de feminilidade, teoricamente oposto ao seu, para se manter bem com sua conduta de vida. Cabelo comprido não é mais feminino. É somente cabelo, só que, comprido.

Simone de Beauvoir escreveu:

“Não acredito que existam qualidades, valores, modos de vida especificamente femininos: seria admitir a existência de uma natureza feminina, quer dizer, aderir a um mito inventado pelos homens para prender as mulheres na sua condição de oprimidas. Não se trata para a mulher de se afirmar como mulher, mas de tornarem-se seres humanos na sua integridade”.

A primeira grande supermodelo do mundo se chama Twiggy. Nos anos 60, ela surgia com seu ‘visual andrógeno’ (não curto essa palavra, mas era assim que rotulavam seu visual).

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Lesley Lawson (Twiggy)modelo, atriz e cantora britânica. Considerada uma das primeiras supermodelos do mundo.

Todo mundo aplaudiu, foi um corre-corre aos salões de beleza e esse corte está aí até hoje (mas pergunte a qualquer cabeleireiro e ele vai comentar sobre diversas garotas que pediram esse corte e choraram depois que viram seus cabelos curtos).

A docinho de magia Emma Watson era proibida de cortar o cabelo enquanto estivesse fazendo parte do elenco de Harry Potter. Depois do último filme ela não só cortou como ficou linda para estrelar o maravilhoso filme “As Vantages de Ser Invisível”.

Mas a pergunta que eu deixo aqui é: a quem afeta o fato de uma mulher querer usar o cabelo curto, se não somente a ela? (Com informações de “As mulheres da minha vida”)

A mulher de cabelo curto 

“Antes de Nero incendiar Roma, disse: ‘Preservais nossos monumentos sagrados. Não ateais fogo nos templos de Júpiter, Apolo e Marte. Mantéis intactas, para serem veneradas pela eternidade, todas as mulheres de cabelo curto’.

Não existe alguém totalmente louco. Nem Nero. Todo mundo que é louco não passa de ‘meio louco’. Explico: metade do tempo o indivíduo está louco e a outra metade está se aproveitando da sua condição de louco. Mesmo Nero, no ápice da sua sandice, sabia o que devia respeitar. Mulheres de cabelos curtos exigem sobriedade, inclusive dos loucos.

Uma mulher de cabelo curto é o seguinte: ela tem uma informação para te dar; e ela não pergunta se você quer ser informado. Mulher de cabelo curto, simplesmente, informa. O resto que se dane. Mulher de cabelo curto diz o seguinte: eu tenho minha autoestima no lugar e não preciso de nada que venha de você.

Mulher de cabelo curto não precisa de atestado protocolado em cartório para ser mulher. Ela não precisa daquela sensação pré-civilizatória de ser puxada pelos cabelos por um hominídeo com tacape na mão.

Toda mulher madura sensata se torna uma mulher de cabelo curto. Quanto mais velha melhor. A comparação entre a idade das pessoas e dos vinhos é parcialmente verídica. Como qualquer coisa parcialmente verdadeira também é parcialmente falsa, sugiro que possamos aprimorar. Mulheres são como os vinhos. As boas, quanto mais velhas, melhores. As ruins, com o tempo, viram vinagre. Idênticas aos vinhos.

Mulher de cabelo curto é bebida fina. É Pinot Noir 2008. É a diferença entre Uísque e Scotch. É preciso ter qualidade de puro malte para o processo de maturação se adiantar ao envelhecimento pelo calendário gregoriano. Já viu mulher de cabelo curto preocupada com o calendário gregoriano? Convenções e engendramentos sociais? Bem capaz. A mulher de cabelo curto é um Scotch 12 anos com maturação de 18.

A mulher de cabelo curto entra em qualquer lugar como se ela fosse dona. Mulher de cabelo curto só precisa mover os olhos. Mulher de cabelo curto chama atenção por onde passa.

A personalidade da mulher de cabelo curto é como um tipo especial de olho azul: ou nasce com, ou vive uma vida toda admirando no rosto dos outros. A nós, homens, resta o esforço de procurar mulheres com personalidade. E a sorte para encontrar uma mulher de cabelo curto”. (Da redação de Papo de Homem)

“Porque sou feminista e uso o cabelo curtinho, chamaram-me de João. Fiquei lisonjeada. João é um nome tão bonito'”. Clara Dawn (Escritora)






As publicações do Portal Raízes são selecionadas com base no conhecimento empírico social e cientifico, e nos traços definidores da cultura e do comportamento psicossocial dos diferentes povos do mundo, especialmente os de língua portuguesa. Nossa missão é, acima de tudo, despertar o interesse e a reflexão sobre a fenomenologia social humana, bem como os seus conflitos interiores e exteriores. A marca Raízes Jornalismo Cultural foi fundada em maio de 2008 pelo jornalista Doracino Naves (17/01/1949 * 27/02/2017) e a romancista Clara Dawn.