Texto de Clara Mariz em SouBH

Em momentos de tensão como a crise epidêmica que estamos vivendo devido ao coronavírus, as pessoas tendem a sofrer mais, já que as incertezas sobre a doença e os isolamentos sociais para a prevenção acabam nos tornando mais frágeis. Aqueles que já são diagnosticados com algum transtorno mental, como o Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), a depressão e a ansiedade, estão mais sujeitos a sofrer com as crises.

O TOC é marcado, em geral, por uma série de hábitos executados constantemente e de forma involuntária. Segundo o psicólogo Flávio Luiz Gomes, alguns teóricos da área tratam a doença como um mal estar que não é esperado pelo paciente e que implica em um sofrimento, tendo em vista que a compulsão, ainda mesmo que a pessoa perceba o que está fazendo, não consegue impedir.

Normalmente os rituais são desenvolvidos nas áreas de limpeza, checagem ou conferência, contagem, organização, simetria e colecionismo. Os graus do transtorno podem variar ao longo da evolução da doença.

Em momentos de epidemias como o que vivemos, as doenças psicológicas podem aumentar ou não. No caso do TOC, essa evolução vai depender da pessoa e de qual tipo de transtorno ela possui e de que modo ela está impactada pelo surto da doença. De acordo com o terapeuta, se o paciente já tiver a tendência de lavar as mãos, ou algo relacionado à limpeza, por exemplo, provavelmente isso será amplificado. “Por uma questão de ansiedade, quando consideramos que o TOC tem relação com esse quadro, ou por um fator de risco real, como é o caso do Covid-19, o transtorno de uma pessoa pode ser potencializado tendo em vista que ela irá justificar seus atos com isso”, explica.

Os meios de tratamento já conhecidos implicam em terapia junto a um psicólogo e um suporte psiquiátrico, com uma medicação que irá diminuir o quadro de ansiedade e vai ajudar a pessoa a se acalmar, evitando assim uma possível crise de pânico. Existem, também, algumas terapias alternativas como as cognitivas comportamentais, que são focadas nos sintomas do TOC.

Para tentar evitar que os transtornos sejam intensificados, o psicólogo orienta que os tratamentos já rotineiros não sejam interrompidos. Mesmo à distância, é essencial que essas pessoas mantenham contato com seu médico e terapeuta. “Hoje nós temos recursos que podem fazer com que o paciente faça uma consulta online, seja por Skype, chamada de vídeo ou qualquer outro recurso de mídia. Interromper o tratamento nunca é indicado, além disso, é necessário sempre tomar as medidas de higiene e evitar se expor a fatores que possam aumentar a ansiedade”, afirma.

No caso de outros tipos de transtornos, como a depressão, o confinamento da quarentena também pode agravar o quadro clínico e gerar crises da doença. Assim, não interromper o tratamento também é essencial, além de, na medida do possível tentar se exercitar, mesmo que dentro de casa, fazer atividades constantes, e criar formas de entretenimento, como ler algum livro, ouvir músicas e ver filmes. Outro passo importante é entrar em contato com as pessoas mesmo que virtualmente, e assim, evitar a solidão.

De acordo com Flávio, evitar o excesso de informações sobre, no caso, o coronavírus, ajuda as pessoas já diagnosticadas com os transtornos mentais a não agravarem o seu quadro clínico. “O paciente tem que buscar meios de se entreter e evitar ficar focado em notícias apenas sobre o vírus. Não é negar a realidade, e sim não se expor a informações que estimulam a depressão, ansiedade e o TOC”, explica.

Texto de Clara Mariz em SouBH






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