Depois de enfrentar uma série de situações estressantes e traumáticas, centenas de crianças refugiadas desenvolvem a Síndrome da Resignação, doença que se assemelha a um estado de coma.

Quando o pai de Sophie, a retira da cadeira de rodas, o seu corpo de nove anos, parece sem vida. Mas o cabelo de menina é espesso e brilha como o de uma criança saudável. Os olhos de Sophie estão fechados e, ela usa fraldas e uma sonda gástrica adentra seu nariz. Ela se alimenta desse jeito há quase dois anos.

“A pressão sanguínea dela é normal, mas seu pulso está um pouco acelerado hoje. Talvez ela esteja reagindo à visita de muitas pessoas hoje”, diz a médica Elisabeth Hultcrantz, voluntária da ONG Médicos do Mundo.

Como uma criança que gostava tanto de dançar ficou tão inerte?

“Quando explica aos pais o que aconteceu, digo que o mundo foi tão terrível que Sophie trancou-se dentro de si própria, desconectando as partes conscientes de seu cérebro”, diz a médica.

Sophie não é um caso único: por quase vinte anos, a Suécia tem enfrentado uma misteriosa doença, batizada de Síndrome da Resignação. Ela afeta apenas crianças solicitantes de asilo ou refugiadas, e todas simplesmente “desligam”- param de andar, falar ou mesmo abrir os olhos. A boa notícia é que, eventualmente, se recuperam.

“A vida em mim”, documentário produzido no ano passado, e estreou há algum tempo na Netflix, traz á lume reflexões acerca da estranha patologia chamada Síndrome da Resignação. Ela afeta crianças de mais ou menos dez anos de idade, filhas de famílias imigrantes que tentam escapar de barbaridades em seus países de origem.

Os sintomas da Síndrome da Resignação começam quando uma criança deixa de falar. Depois, aos poucos, ela vai parando de comer. Em seguida, ela fica completamente indiferente ao mundo. Imóvel, sem comer nem beber água, de olhos fechados, sem emitir nenhum som. É como se estivessem em coma.

Os médicos parecem perplexos diante da Síndrome da Resignação, e não sabem explicar os motivos, origens ou mesmo como as crianças escapam do estado vegetativo e conseguem se recuperar, às vezes depois de mais de um ano inertes.

Uma das explicações possíveis para a Síndrome da Resignação, é que essas crianças testemunharam situações terríveis (pai espancado, mãe estuprada, ameaças, medo…) e tiveram que recomeçar suas vidas noutro país, frequentando uma escola desconhecida, aprendendo uma língua desconhecida e deixando o passado para trás.

Diante de um futuro incerto e com medo de voltar para o lugar de origem, algumas crianças entram numa espécie de “modo de segurança”, desligando do mundo até que as coisas melhorem. Uma das crianças retratadas no filme se recupera depois de um ano e meio inanimada e, quando fala com a mãe sobre o período em que ela ficou desligada, a menina diz não se lembrar de nada e pergunta: “Eu estava dormindo, mãe?”. Leia a reportagem completa aqui.

O documentário é uma vinheta do sofrimento vivido pelos refugiados de conflitos no Leste Europeu e no Oriente Médio. É triste e desesperançado. Confira o trailer.






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