Desde 2020, diversos estudos sobre o impacto da covid-19 na saúde mental foram realizados. Um deles, publicado na revista científica The Lancet em outubro passado, analisou a prevalência global de depressão e transtornos de ansiedade em 204 países e territórios naquele ano. O estudo indicou o registro global de cerca de 53 milhões de casos adicionais de transtornos depressivos e 76 milhões de pessoas com transtornos de ansiedade. As informações são de Época Negócios.

Inicialmente, havia pouca compreensão de quanto tempo a pandemia duraria. Porém, com o tempo, a perda do contato social diário começou a cobrar seu preço, alerta Raiteri. “Definitivamente, há um enorme impacto na saúde mental de um longo período de incerteza e mudança que deixou as pessoas muito isoladas e sem saber como se conectar”, diz.

Natalie Bodart, psicóloga clínica com sede em Londres e chefe do The Bodart Practice, destacou que a pandemia obrigou muitas pessoas a enfrentarem problemas que podiam evitar antes, como o isolamento e a solidão.

“Nosso dia a dia serve como grandes mecanismos de defesa, temos muitas distrações que nos ajudam a evitar as coisas, para o bem e para o mal. Por exemplo, tivemos pessoas mais jovens que vieram até nós e disseram: ‘agora que não estou mais fazendo o meu trabalho sociável, percebo que tenho um problema com álcool.’ E por que isso? Bem, isso é porque não pode mais ser encoberto pelo fato de que seu trabalho exige que eles socializem e bebam muito”.

Trauma provocados pelas medidas de isolamento

As restrições ao contato social impostas pela pandemia impediram que indivíduos ao redor do mundo compartilhassem não apenas marcos importantes, como nascimentos e casamentos, mas também momentos finais com entes queridos, com muitos incapazes de realizar ou comparecer a funerais durante os períodos mais rigorosos de lockdown.

Leigh Jones, psicóloga clínica e cofundadora da Octopus Psychology, observou que ela tinha preocupações com a perda de “rituais” associados à morte. “Eu realmente me preocupo com o impacto no luto, porque temos rituais por uma razão, que é nos ajudar a processar a perda e o luto”.

Katherine Preedy, psicóloga clínica com sede perto de Londres, relatou à CNBC que está vendo “muitos traumas”. Tanto de pessoas que perderam alguém para a doença quanto das que passaram por outras situações traumáticas, como não poder visitar parentes doentes ou próximos da morte.

“Esta é uma geração inteira [que foi afetada pela covid], são dois anos de nossas vidas, acho que isso terá um grande impacto. Pode haver socorristas, pessoas em hospitais, que ainda estão muito nesse modo de sobrevivência, e então, obviamente, há o impacto emocional nas pessoas, indústrias inteiras sendo perdidas, o [impacto] na saúde”, avaliou.

Ela ponderou ainda que os profissionais de saúde mental também estão sob pressão para ajudar um número muito maior de pacientes. “Somos uma nação que está traumatizada e sob estresse; o mundo inteiro está sob trauma e estresse, o que significa que nós, como as pessoas com quem trabalhamos, temos menos recursos para recorrer e temos que trabalhar um pouco mais para garantir que ′ estamos cuidando de nós mesmos”, continuou.

Marcos perdidos

Psicólogos dizem que, embora a pandemia possa estar em sua fase final, o impacto que provocou na saúde mental poderá ser sentido por anos.

Segundo Alex Desatnik, psicólogo clínico e consultor no Reino Unido, levará “pelo menos uma geração” para resolver os danos a muitos jovens causados por marcos perdidos e experiências cruciais para o desenvolvimento.

“As crianças que cresceram neste estado, nesta condição, e aquelas coisas das quais foram privadas, levarão isso para a vida toda. Espero que, como sociedade, façamos o máximo que pudermos para compensar o que aconteceu, e ainda está acontecendo, na verdade”, destacou. Desatnik ainda ressaltou que os marcos ligados à idade e ao desenvolvimento são, uma vez ultrapassados, são difíceis de voltar e “reparar”.






As publicações do Portal Raízes são selecionadas com base no conhecimento empírico social e cientifico, e nos traços definidores da cultura e do comportamento psicossocial dos diferentes povos do mundo, especialmente os de língua portuguesa. Nossa missão é, acima de tudo, despertar o interesse e a reflexão sobre a fenomenologia social humana, bem como os seus conflitos interiores e exteriores. A marca Raízes Jornalismo Cultural foi fundada em maio de 2008 pelo jornalista Doracino Naves (17/01/1949 * 27/02/2017) e a romancista Clara Dawn.