Um dia acordarás num quarto novo

sem saber como foste para lá
e as vestes que acharás ao pé do leito
de tão estranhas te farão pasmar.
A janela abrirás devagarinho:

fará nevoeiro e tu nada verás…
Hás de tocar, a medo, a campainha
e, silenciosa, a porta se abrirá.
E um ser, que nunca viste, em um sorriso
triste, te abraçará com seu maior carinho
e há de dizer-te para o teu assombro:

– Não te assustes de mim, que sofro há tanto!
Quero chorar – apenas –no teu ombro
e devorar teus olhos, meu amor…

Para Maria Helena, que me pediu
“uma história bem romântica”

E no dia seguinte, amor

Quando a luz estender a roupa nos telhados
E for todo o horizonte um frêmito de palmas
E junto ao leito fundo nossas duas almas
Chamarem nossos corpos nus, entrelaçados,
Seremos, na manhã, duas máscaras calmas

E felizes, de grandes olhos claros e rasgados…
Depois, volvendo ao sol as nossas quatro palmas,
Encheremos o céu de vôos encantados!…
E as rosas da Cidade inda serão mais rosas,

Serão todos felizes, sem saber por quê…
Até os cegos, os entrevadinhos… E
Vestidos, contra o azul, de tons vibrantes e violentos,
Nós improvisaremos danças espantosas
Sobre os telhados altos, entre o fumo e os cata-ventos!

Poemas de Mario Quintana – Extraídos do livro “Nariz de Vidro” -Editora Moderna – 2003






As publicações do Portal Raízes são selecionadas com base no conhecimento empírico social e cientifico, e nos traços definidores da cultura e do comportamento psicossocial dos diferentes povos do mundo, especialmente os de língua portuguesa. Nossa missão é, acima de tudo, despertar o interesse e a reflexão sobre a fenomenologia social humana, bem como os seus conflitos interiores e exteriores. A marca Raízes Jornalismo Cultural foi fundada em maio de 2008 pelo jornalista Doracino Naves (17/01/1949 * 27/02/2017) e a romancista Clara Dawn.