“Superviver” é a forma de nos referirmos ao que mais do que viver. Efetivamente o que eu quero é Superviver  e promover em mim, e naqueles com quem me relaciono e considero, o dom da supervivência: Ser, Dar, Apreciar, Criar, Questionar,  Equacionar, Sonhar, Avançar, Fazer, Rir, Decidir, Abraçar, Voar. Tudo o que pode trazer sentido à nossa existência e contribuir para uma Vida Plena, uma Vida Feliz.

Gosto de rir. Sozinha e com os outros. Adoro passar uma tarde entre familiares e/ou amigos, em que o som das gargalhadas se perpetua dentro de mim. Gosto daquelas reuniões de trabalho que todos acabamos com dores nas bochechas de tanto rir. Não apaga as dores ou problemas que possa estar a viver, mas sem dúvida que me ajuda a ganhar perspectiva e abstrair-me de tudo o resto. Gosto do espírito de brincadeira, de leveza e bem-estar.

Durante muitos anos, o sentido de humor foi absolutamente negligenciado pela hard science. Subjetividade ou mesmo infantilidade eram facilmente associados à arte de rir de nós, rir com os outros. A capacidade de ver o lado cômico era algo que em nada acrescentava a quem queria estudar o comportamento humano com rigor, e o cinzentismo era associado a maturidade, seriedade e profissionalismo. Hoje rir, desenvolver o sentido de humor ou brincar, tornaram-se bandeiras da investigação e intervenção na área do bem-estar: numa lógica individual, conjugal, familiar ou mesmo das relações de equipa e organizacionais.
Se é um fato que o sentido de humor existe exclusivamente no ser humano, parece-me fundamental, enquanto psicóloga, pararmos para questionarmos sobre a sua natureza e função. Até que ponto o sentido de humor nos pode ajudar nas nossas vidas? O impacto na nossa capacidade de ganhar perspectiva sobre os problemas, ter mais insight e criatividade, menor nível de conflito nas relações conjugais, maior proximidade nas famílias, flexibilidade e coesão nas equipas, são hoje dados da ciência e todos podemos verificar no nosso dia-a-dia a sua aplicabilidade.

As quatro dimensões do Sentido de Humor (SH) estão inter-relacionadas e potenciam-se mutuamente:

  1. Criação do sentido de Humor – a facilidade em rir e fazer rir, com uma perspicácia para identificar o lado cômico e divertido das situações;
  2. Apreciar o Humor e Desfrutar da vida – dimensão referente a habilidade para rir-se de si próprio e de apreciar o quotidiano (mesmo na rotina), levando a vida a sério, mas integrando algum humor;
  3. Otimismo face a problemas – refere-se à capacidade de encarar os contratempos, dificuldades ou fracassos; de recorrer ao humor em momentos negativos; e de atuar de forma adequada para encontrar soluções a partir dos recursos.
  4. Estabelecimento de relações positivas – capacidade para estabelecer relações gratificantes, baseadas numa comunicação positiva e no uso do humor.
Mas nem todo o humor é construtivo ou potenciador de modos mais positivos de lidar com as situações! Nesta tentativa de perceber mais e melhor o SH, são muitos os investigadores que apresentam propostas de escalas de classificação. Parece haver algum consenso, quanto ao fato do sentido de humor se poder tornar também negativo para as relações: falo naturalmente do sarcasmo, enquanto sentido de humor destrutivo, e todos nós poderemos já ter experienciado fases de maior fragilidade, em que ficamos particularmente vulneráveis e sensíveis a “piadas” alheias. Se é divertido ‘rir de’, ‘rir com’ e pode ser transformador, então, vamos sorrir?. 





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