Em entrevista à revista Claudia, a atriz Julia Konrad revelou ter sido vítima de estupro conjugal, violência sexual, psicológica e verbal em um relacionamento durante anos, ainda que estudasse o feminismo e o defendesse, só entendeu o que passou anos depois que a relação chegou ao fim.

“Sempre dou o exemplo de outra ex parceira desse cara, que era tachada de louca. Se ela viesse até mim enquanto eu estava me relacionando com ele contar o que viveu, eu não ia acreditar”, diz a atriz, que estrelou novelas como “Malhação” e “O Sétimo Guardião”.

Eu só tinha a história dele, o lado dele, de que ela era a louca. Você nunca sabe se você vai ser a próxima louca, na próxima história. Então, sempre que alguém tiver a coragem de expor o que viveu, acolha. Pergunte como ela está, ajude”, afirma a atriz. “Não fique do lado do macho, já tem muita gente do lado dele. Sororidade, para mim, é compartilhar a experiência e acolher a mulher que compartilha.”

Após compreender a violência vivida anos antes, ainda que estivesse decidida e preparada para torná-la pública, para alertar outras mulheres, não imaginou o nervosismo que passaria na noite anterior à revelação, quando ficou sem dormir.

Ia ao banheiro a cada cinco minutos, tinha receio que vissem seu depoimento como “qualquer coisa”. Segundo ela, vivia quase uma experiência fora do corpo, porque, junto a isso, havia um peso imenso sendo retirado de suas costas.

“Caraca, eu não sou maluca”

Foi então que a definição de sororidade se expandiu na vida de Julia. As experiências traumáticas, as feridas e as sessões de terapia haviam sido catalisadas. Ela recebeu dezenas de mensagens de mulheres contando seus relatos.

“Tanta mulher passa por isso sem saber o que é, sem saber por que se sente tão errada na hora [do sexo], sem o porquê daquela sensação ruim depois, sem entender que você vive uma violação às vezes dia após dia num casamento. Ver em palavras alguém realmente falar sobre e conseguir se identificar deve ser uma catarse”, acredita Julia. “Imagino algo como: ‘Caraca, eu não sou maluca, eu também passei por isso’. Ao mesmo tempo em que eu validava essas mulheres com o meu relato, elas me validaram com os delas.”

Ela fez questão de ler e responder a todas as mensagens.

“Escutei, acolhi e, em alguns casos, direcionei para movimentos como o Mapa do Acolhimento e as Justiceiras, rede de psicólogas e advogadas voluntárias que trabalham com mulheres em situação de violência. Foi uma coisa de se enxergar como irmã mesmo”.

Quatro mulheres agredidas pelo mesmo homem

Julia diz que tomou muito cuidado ao fazer seu relato, pois não acredita no tribunal da internet nem na cultura do cancelamento.

“Isso não é sobre expor ninguém, não é sobre fazer uma denúncia. Ao mesmo tempo, foi muito importante ter falado, porque, desde a publicação, outras vítimas [dele] entraram em contato comigo”, diz.

“Somos agora quatro mulheres agredidas por essa pessoa. Infelizmente, como os crimes prescreveram, nenhuma de nós pode fazer nada. Mas acho importante dizer que, se alguém no futuro precisar, nós serviremos como testemunhas. Estamos juntas nessa.”

A atriz contou que o ex usava o seu sonho de casamento como barganha na hora do sexo, com pressão psicológica ele a fazia acreditar que era dever e obrigação dela lhe dar prazer, pois senão acabaria procurando fora de casa. Além de forçar o sexo, o ex ainda controlava as amizades da atriz, “A manipulação é muito sutil, complexa e, se você está ali dentro, você não consegue enxergar. É necessário afastamento para você ver de fato a situação”.

Julia demonstrou que deseja que suas atitudes ensinem os homens (e seu ex) a serem melhores, a mudar, pedir desculpas e reconhecer o mal que pode ter feito ou estar fazendo a uma mulher.

Leia na íntegra, na UOL.






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