Sete meses após a confirmação do primeiro caso de coronavírus, em fevereiro, o Brasil atingiu a marca de 5 milhões de infectados nesta quarta-feira, 08/10, e os Óbitos confirmados são de 148.288. Embora a média de mortes por Covid-19 tenha recuado nas últimas semanas, o patamar ainda é elevado.

O médico e cientista brasileiro Miguel Nicolelis em entrevista à CartaCapital avaliou o curso da doença no Brasil, as estratégias de enfrentamento ao vírus, as omissões e as expectativas para a chegada de uma possível vacina. Ele é cauteloso ao analisar os dados das últimas semanas. Se quiser ler a entrevista na íntegra clique aqui. Ou então leia abaixo alguns excertos importantes:

“Eu não teria a irresponsabilidade de falar isso[se o pior já passou]. Nós tivemos uma pequena queda que já foi vista em outros países, como nos EUA, mas a situação lá explodiu de novo no começo de junho. […] Nós estamos em um patamar de instabilidade, onde qualquer surto mais importante pode levar a um crescimento de casos, vide o que aconteceu no Rio de Janeiro. Há duas semanas, a taxa de ocupação de leitos da rede pública na cidade do Rio de Janeiro chegou a 79%, e na rede privada chegou a 90%. É muito difícil dizer que o pior já passou. No Brasil, a gente aprendeu que essa frase é extremamente perigosa de ser usada”. Miguel Nicolelis

Curvas de contágio

“O Brasil é um país continental, com múltiplas dinâmicas do vírus acontecendo, o que representa na atualidade a marca dos erros de manejo e dos poucos acertos que ocorreram em um passado recente. Quando você olha para as curvas de contágio a longo prazo, é possível ver essas impressões.

“O estado de São Paulo, por exemplo, tem a quarentena mais longa do mundo, porque nunca efetuou um lockdown correto. Um estudo epidemiológico nosso indicou que a cidade de São Paulo foi responsável por mais de 85% do espalhamento de casos pelo Brasil, nas primeiras três semanas de pandemia.

E as rodovias que cruzam a cidade e saem para o restante do País, 26 federais, foram responsáveis por 30% do espalhamento dos casos. Agora, temos pequenas quedas, com patamares ainda altíssimos.

Também temos casos em que a curva do vírus se materializou com atrasos, caso do Centro-Oeste, Minas Gerais, e Amazonas, onde também aconteceu o que previmos em um estudo, o efeito boomerang, com o interior impulsionando novamente os casos para a capital. Em Manaus, basicamente a dinâmica do vírus foi ao Deus dará: pode agir da maneira como quis”. Miguel Nicolelis

Lockdown

“Há impactos positivos na contenção do vírus em locais que fizeram algum lockdown, ainda que não completamente, como São Luíz, Fortaleza, Recife (com menos ênfase) e grande João Pessoa. O efeito é duradouro.

Nenhum país do mundo renunciou ao isolamento social como forma de mitigar os problemas causados pelo coronavírus até que exista uma vacina. O efeito da estratégia já foi demonstrada em vários artigos científicos. No Brasil, onde foi minimamente implantado, os efeitos foram claros. Não tem como renunciar a uma das poucas coisas que a gente sabe que é efetiva.

Tem ainda o componente de responsabilidade cívica da sociedade brasileira que, aparentemente, acha que a pandemia acabou. Basta olhar as praias cheias aos finais de semana, o futebol ocorrendo como se nada tivesse acontecendo. É um problema de disposição política, mas também psicológica de aceitação e combate à pandemia. Definitivamente, o problema não está na ferramenta de controle, no isolamento social, mas naqueles que deveriam entender o seu uso, implementá-lo e não o fazem”. Miguel Nicolelis

Vacinas

“Acho difícil uma vacina ainda neste ano; já estamos em outubro. E isso não só do ponto de vista de validação dos resultados e autorização, mas também de logística, não tem como. Segundo que, até agora, não temos uma clareza dos resultados da fase 3. Houve o relato de complicações da vacina de Oxford, umas das três mais avançadas. Precisamos aguardar pela publicação dos dados para que a gente possa avaliá-los com cuidado. Existe uma politização muito grande, tanto no Brasil como fora. A gente viu nos EUA o presidente Trump tentando forçar a barra para dizer que uma vacina estará pronta antes das eleições americanas, o que pelo visto não é verdade. Então, acho, que neste momento, temos muito pouco a falar, temos que aguardar resultados mais concretos”. Miguel Nicolelis

Volta às aulas

“Na minha opinião, não temos a menor condição de abrir as escolas no Brasil. […] Estamos em outubro. Não vejo o menor sentido em arriscar uma potencial explosão de surtos abrindo as escolas. As pessoas não param para pensar que não serão só as crianças as expostas, mas os professores, funcionários, o entorno das unidades. Dizer que as escolas têm que ser reabertas porque reabriram bares é um absurdo, um raciocínio que não faz o menor sentido. O preço alto que vamos pagar é pela falta de um manejo mais apropriado da pandemia desde o começo, a nível federal e de outros estados”. Miguel Nicolelis

Vale muito a pena ler a entrevista na íntegra. Clique aqui.

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