Nos Estados Unidos, o CDC (Centers for Disease Control and Prevention) recomendou que todos os estabelecimentos e prédios comerciais se equipassem com o termômetro de infravermelho. Entretanto, o mesmo CDC estima que 40% das transmissões ocorram em um período antes de o paciente sintomático se sentir adoentado.

Segundo Andrew Morris, professor de medicina da Universidade de Toronto, as pessoas mais jovens podem ter o vírus sem ter nenhum tipo de sinal. Enquanto os idosos e imunocomprometidos podem não ter uma saúde suficientes para desenvolver febre.

Então o que nos garante essa checagem? 

Esses 40% são pessoas sem febre, aparentando que estão saudáveis, mas podem estar contaminadas, só que ainda não sentem coisa alguma. Ainda.

A infectologista Sylvia Lemos Hinrichsen, professora titular da Universidade Federal de Pernambuco; considerada entre seus pares da Sociedade Brasileira de Infectologia como uma das maiores consultoras em biossegurança, controle de infecções e riscos do país, disse ao Blog da Lúcia Helena, colunista da UOL, que a checagem da temperatura é um mito:

“Primeiro, 80% dos infectados são assintomáticos ou têm sintomas leves, que não incluem necessariamente a febre. Também escapam do termômetro os pré-sintomáticos”, afirma a professora Sylvia.

Assim, confiantes na checagem da temperatura infectados podem transmitir o novo coronavírus. Pois no instante em que o o Sars-CoV 2 invade uma célula e domina a sua reprodução, o vírus ordena que se inicie a produção em massa de suas réplicas. Sylvia, explicou ainda que uma vez infectada, a pessoa não demora a transmitir o vírus: “Não demora. É possível que, no primeiro dia, ela se torne transmissora. Logo nas primeiras 24 horas já são dezenas de milhares de cópias do novo coronavírus em seu organismo”.

“Prefiro ficar em casa, sentindo que a ameaça permanece do lado de fora”

Nas palavras da blogueira Lúcia Helena que afirma que ainda prefere ficar em casa, sentindo que a ameaça permanece do lado de fora: “Pelo menos quatro em cada dez infectados não apresentarão nem sequer um único sintoma. Daí saem pelas ruas acompanhados desse serial-killer, passando a batata quente adiante. E, se nunca vão apresentar sintomas, continuarão com o trânsito livre pelos mais diferentes lugares no que depender do termômetro na porta de entrada. Os cientistas usam a expressão transmissão silenciosa — é quando o novo coronavírus passa sorrateiramente de um organismo sem dar sinais da infecção para os outros. Não só os assintomáticos contribuem para isso. Existem aqueles que continuam serelepes pelas ruas, soltando baforadas de coronavírus, nas vésperas de caírem de cama sentindo-se mal”.

A verificação da temperatura não tem valor

Em Nova York, epicentro da pandemia nos Estados Unidos, a febre surgiu em apenas 64% dos profissionais de saúde que pegaram a covid-19. Na Europa, pacientes que apresentaram quadros brandos e moderados da doença, tiveram a temperatura alta em apenas 45% deles.Logo os outros 55% não tiveram febre. Na Australia, um estudo mostrou que dos 86 pacientes com suspeita de covid-19, somente 16 estavam com febre. Outrossim, no dia seguinte, duas pessoas a mais estavam com febre.

“Isso só demonstra mais uma vez que o termômetro não é o melhor caminho para indicar quem pode estar infectado, comenta a professora Sylvia.

Segundo alertam outros pesquisadores, esse procedimento não é apoiado em nenhuma evidência científica. E, na realidade, pode ajudar o novo coronavírus a infectar mais pessoas: “Nunca houve dados que demonstrem que isso impediu qualquer transmissão de COVID-19. A verificação da temperatura não tem valor. Deveria ser abandonada”, disse Eric Topol, vice-presidente executivo do Scripps Research.






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