Em razão dos casos confirmados de coronavírus em São Paulo, a Arquidiocese ofereceu a Casa de Oração do Povo da Rua, na região central, como espaço de abrigo para moradores de rua que forem infectados com Covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus.

“A gente sabe que, pelo censo, mais de 50% da população de rua está na rua. E se precisar de algum lugar para quarentena, a Arquidiocese oferece espaço que sob orientação da Secretaria da Saúde possa ser utilizado”, disse o Padre Julio Lancelloti, coordenador da Pastoral do Povo de Rua.

A decisão de oferecer o local teve o aval de Dom Odilo Scherer, Arcebispo Metropolitano que também está preocupado com a situação.

“A estimativa é a de que existem 24 mil moradores na cidade, sendo 7 mil em alto risco, seja por outras doenças que já tem, seja pela idade”, disse o Padre Júlio.

A capacidade do local é para isolar até 50 pessoas, “dependendo do uso que for feito”, afirma o pároco.

“Duas pessoas da Secretaria da Saúde estiveram lá, viram o espaço, viram com alguma possibilidade de adequação e contam com essa possibilidade caso seja necessário”, completou o pároco.

A Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania disse que “ainda não foi procurada oficialmente para discutir esta possibilidade, e entende que nesse momento, todos os esforços para dar apoio e proteger as populações mais vulneráveis da cidade são muito bem vindos, e portanto se coloca à disposição para pensar alternativas que possam reduzir o impacto da propagação do novo coronavírus no município.”

De acordo com a página da Arquidiocese na internet, a Casa de Oração foi construída com dinheiro de um prêmio que Dom Paulo Evaristo Arns recebeu do Japão. Dado pela Fundação Niwano, o prêmio de 190 mil dólares na época (1994) foi um reconhecimento a Dom Paulo “por sua colaboração inter-religiosa para promover o desenvolvimento, conservar o meio ambiente e criar um mundo de paz com a participação de cristãos, budistas, muçulmanos e judeus.”

Na reunião feita entre representantes do governo do estado, Prefeitura de São Paulo e Ministério da Saúde na tarde de sexta-feira (13), a questão dos moradores de rua chegou a ser comentada entre os presentes. A reportagem ouviu de alguns participantes que o “assunto foi comentado pelo secretário municipal da saúde, Edson Aparecido, como algo preocupante e que medidas precisam ser implementadas”.

De acordo com dados de 2019 da Secretaria Municipal de Assistência Social, São Paulo tem uma população de rua de pelo menos 24 mil pessoas. Desses, pelo menos 2.211 são idosos com 60 anos ou mais, população mais vulnerável às infecções de coronavírus. Cerca de 81% desses idosos estão acolhidos em centros de atendimento municipais.

Outros problemas

Padre Júlio lembra que, por falta de acesso à água e banheiro, a população de moradores de rua é a mais vulnerável a infecções e epidemias. “Na rua não tem medidas de acesso de higiene como o básico: lavar as mãos, usar álcool gel, ter medidas de higiene como roupas limpas, locais limpos para dormir.”

Os moradores de rua que estão nos albergues públicos também enfrentam problemas de saúde e de falta de estrutura. “Os que estão acolhidos, estão relatando questões muito fortes como a tosse, por exemplo. Dizem que falta ventilação nos lugares. Além disso, uma doença prevalente que pode ser agravante [nestes lugares] é a tuberculose. É comum, mesmo nos centros de acolhidas, tem muita tosse, que acaba passando de uns para os outros”, afirma o pároco.

Além das condições precárias, o medo de coronavírus em São Paulo, segundo os moradores de rua, tem diminuído a oferta de refeições nas ruas, como sopas e lanches nas ruas.

Fonte: G1






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