Fascite plantar é um processo inflamatório ou degenerativo que afeta a fáscia plantar, uma membrana de tecido conjuntivo que recobre a musculatura da sola do pé.

É importante não confundir a fascite plantar com o esporão do calcâneo. São duas patologias diferentes, embora possam ser desencadeadas por lesões muito semelhantes: microtraumatismos e inflamação crônica na região do calcanhar, nas proximidades da inserção do tendão de Aquiles. No caso específico do esporão, surgem depósitos de cálcio abaixo ou atrás desse osso. Eles formam saliências parecidas com ganchos que lembram as esporas dos pés dos galos. Esporões do calcâneo podem provocar uma dor aguda, em pontada, que piora com o movimento e melhora com o repouso.

Geralmente, a fascite plantar é um transtorno de bom prognóstico, mas a recuperação costuma ser bastante lenta.

A fáscia plantar ajuda a manter a curvatura do pé firme, graças à sua capacidade de amortecer e distribuir o impacto. Ainda não se conhece a causa exata da fascite plantar, mas na maioria dos casos, a dor forte característica do transtorno é provocada pelo estiramento excessivo da fáscia plantar ou pela repetição de microtraumatismos nessa estrutura.

Segundo o Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor (SBED), estudos recentes têm demonstrado que a dor pode estar associada “a uma alteração estrutural mais condizente com processos degenerativos” causados pela prática exagerada de exercícios físicos, sobrepeso ou idade.

Sintomas da fascite plantar

O sintoma característico da fascite plantar é uma dor forte, em facada, debaixo do pé, perto do calcanhar. Em geral, essa dor é mais intensa pela manhã, mas alivia durante o dia com o caminhar. No entanto, nada impede que ela surja em qualquer ponto da fáscia, depois de longos períodos em pé, depois de subir escadas ou mesmo depois de ter repousado um pouco.

Inchaço (edema) e vermelhidão (eritema) são outros sinais que podem estar presentes. Portadores dessa condição podem apresentar também dificuldade para trazer a ponta do pé na direção da canela (movimento chamado de dorsiflexão).

Sem tratamento, a dor pode se tornar crônica e provocar alterações na marcha, que revertem em lesões no joelho, quadris e coluna.

Fatores de risco da fascite plantar

A doença se manifesta principalmente entre os 40 e os 60 anos e pode afetar tanto homens como mulheres.

Pessoas com sobrepeso, atletas — especialmente os corredores — bailarinos, ginastas, têm maior risco. Mulheres que usam sapatos com saltos muito altos com frequência estão mais sujeitas a desenvolver essa condição.

Além da obesidade e do ganho rápido de peso, são considerados fatores de risco para a fascite plantar:

  • Pés planos ou chatos (arco plantar mais baixo, maior área de apoio da sola do pé com o solo) ou pés cavos (arco plantar mais alto, menor área de apoio da sola do pé com o solo) podem afetar a forma como o peso do corpo é distribuído e aumentar a pressão sobre a fáscia plantar;
  • Encurtamento do tendão de Aquiles, localizado na parte de trás da perna e que liga os músculos da panturrilha aos ossos do calcanhar. Em geral, isso pode acontecer em decorrência do enrijecimento do músculo da panturrilha ou do uso frequente de sapatos com saltos muito altos ou sem o suporte adequado para amortecer os choques contra o osso calcâneo.

Diagnóstico de fascite plantar

Num primeiro momento, o diagnóstico de fascite plantar é clínico e leva em conta as particularidades dos sintomas e os fatores de risco. Exames de raio X e ultrassom podem ser úteis para estabelecer o diagnóstico diferencial com esporão do calcâneo, metatarsalgia (dor nos ossos que articulam as falanges dos dedos), tendinite tibial posterior e microfraturas ósseas.

 Tratamento da fascite plantar

O objetivo do tratamento da fascite plantar é reduzir a inflamação, aliviar a dor e habilitar o paciente para assumir suas atividades rotineiras.

Grande parte dos portadores de fascite plantar se beneficia com o tratamento conservador, que inclui repouso, aplicação de gelo no local e sessões de fisioterapia para promover o alongamento de estruturas, como a própria fáscia plantar, o tendão de Aquiles e os músculos da panturrilha.

O uso de palmilhas ortopédicas visando à melhor distribuição do peso corpóreo sobre os pés e de órteses noturnas para evitar o encurtamento do arco e manter a fáscia plantar alongada durante a noite são recursos não farmacológicos que podem ser benéficos.

A terapia por ondas de choque (ESWT ou TOC), constituída por ondas sonoras aplicadas no local da lesão, tem-se mostrado útil para reduzir a dor, aumentar a irrigação de sangue na área afetada e promover a cicatrização e regeneração dos tecidos moles.

Segundo a Sociedade Médica Brasileira de Tratamento por Ondas de Choque (SMBTOC), esse método terapêutico deve ser prescrito por um médico ortopedista. Inicialmente desenvolvido para o tratamento de cálculos renais, no site www.sbtoc.org.br/ estão elencadas as condições clínicas em que a aplicação de ondas de choque não é recomendada.

Quando necessário, o tratamento farmacológico inclui a prescrição de analgésicos e anti-inflamatórios não esteroides, a aplicação de toxina botulínica e a infiltração com anestésico ou com corticosteroides diretamente na região de maior dor na sola do pé.

A cirurgia para liberação da fáscia plantar só é indicada quando os outros recursos terapêuticos não produzem mais resultados.

Prevenção da fascite plantar

As seguintes medidas ajudam a prevenir a manifestação da fascite plantar:

  • Evite ganho do peso rápido: a obesidade representa uma sobrecarga extra sobre as estruturas do pé, especialmente sobre o arco plantar;
  • Procure alongar músculos e ligamentos antes e depois de praticar qualquer atividade física;
  • Não ande descalço em superfícies muito rígidas, nem caminhe nas pontas dos pés;
  • Certifique-se de que os calçados possuem o amortecimento necessário para absorção do impacto e garantem o apoio adequado para o arco do pé de acordo com a atividade praticada;
  • Reserve os calçados com saltos muito altos para ocasiões especiais e use por pouco tempo. No dia a dia, prefira sapatos com saltos mais baixos, que não estejam largos nem apertados demais, nem que tenham a sola muito fina ou muito gasta.

Recomendações para auxiliar na prevenção e tratamento da fascite plantar

Para reduzir a inflamação e aliviar a dor:

  • Congele água dentro de uma garrafa pet e role-a sob o arco plantar para frente e para trás durante 10 minutos;
  • Massageie a sola dos pés com uma bolinha do tamanho aproximado das bolas de tênis, movimentando-a em todas as direções.

Para alongar e fortalecer a fáscia plantar:

  • Sente-se no chão com as costas retas, estique as pernas e puxe a pontas dos pés com uma toalha;
  • Sentado numa cadeira, recolha do chão bolinhas de gude ou rolhas de garrafa utilizando apenas os dedos dos pés.

Para alongar e fortalecer os músculos da panturrilha:

  • Pise na borda de um degrau com as pontas dos pés alinhadas e vá baixando apenas a parte dos calcanhares para fora do degrau, o máximo que conseguir, sem forçar muito. Permaneça nessa posição por alguns segundos. Depois volte à posição inicial e relaxe a musculatura;
  • Sente-se numa cadeira com a planta dos pés apoiadas no chão e os joelhos flexionados em 90º. Nessa posição, erga o calcanhar o mais alto que puder e pressione com toda a força possível as pontas dos pés contra o chão. Mantenha a posição por alguns segundos e vá abaixando os calcanhares devagar.

Perguntas frequentes sobre fascite plantar

Quem tem fascite plantar pode praticar atividade física?

Na verdade, exercícios podem ajudar a evitar e combater a fascite plantar, mas varia de caso a caso. Em geral, quando o problema torna-se muito recorrente e parece ligado à atividade que a pessoa pratica, indica-se a mudança para exercícios que não comprometam a sola do pé, como natação. Converse com seu médico.

Quais calçados devem ser evitados?

Os pés são exigidos de forma diferente em uma corrida, em um jogo de tênis e no vôlei; portanto, utilize calçados próprios para cada prática. Evite sapatos com salto alto e sapatênis, pois quando utilizados por longos períodos podem provocar a inflamação.

Inchaço nos tornozelos pode ser decorrente da fascite plantar?

É mais comum o inchaço atinge a sola e o calcanhar, mas em alguns casos o tornozelo também pode ser afetado.

Texto de Maria Helena Varella Bruna – extraído do site Drauzio Varella






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