A manchete no jornal diz: Após ser estuprada, mulher pula do carro em movimento em São Paulo. Aconteceu na noite do dia 9/08/2018 em São Paulo: uma moça salta de um carro em movimento após ser estuprada, assaltada e ameaçada de morte. Ela foi socorrida e fisicamente está bem. 

Ela contou que foi abordada pelo assaltante quando chegava do trabalho em seu carro, o homem a roubou e assumiu o volante. Ele a levou até um lugar deserto, a obrigou a tirar a roupa e a estuprou. E ainda após o crime de estupro a levava para sacar mais dinheiro, lhe ameaçando de morte.

Enquanto ele dirigia até o local para o saque, a moça decidiu pular do carro em movimento, e foi socorrida por testemunhas no local. Seu carro foi encontrado 800 metros adiante do ponto de onde ela se jogou, após ter batido contra outro carro estacionado no local.

Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 154 casos de estupros são denunciados por dia no Brasil, 1 a cada 10 minutos. E não venham dizer que é culpa da vítima, da roupa que ela usava e blá, blá, blá, porque as indianas se cobrem até o pescoço e o índice na índia é o maior do mundo. Aqui no Brasil houve um aumento de registros, de 46% de 2010 à 2016 porque as mulheres estão tendo coragem de denunciar. E isso, não é um sinal para temermos, é para continuarmos denunciando.

Sororidade feminina:

Enfim tiraram o espartilho de nós. Mas que coisa, ainda não nos tiraram do espartilho. Todos os dias, sem pestanejar, milhares de nós, são subjugadas, espoliadas, traídas, espancadas, estupradas, assassinadas… Se eu, branca de classe média, com curso superior, privilegiada pela meritocracia racial, vivenciei parte dessas coisas, choro e revolto-me quando vislumbro que as mulheres pretas além de estarem sob todo este infortúnio, ainda têm de lutar, não apenas pelos direitos das mulheres, mas por direitos humanos. Odeio este mundo tal qual ele é: capitalista, misógino, xenofóbico, racista, homofóbico, machista e etcétera.

Você sabia que 8 em cada 10 mulheres já foram vítimas de violência doméstica e/ou abuso sexual? Outra coisa terrivelmente triste nesta estatística é que pelo menos uma das duas mulheres que nunca passou por isso, não tem nenhuma empatia pelas outras. Chegando ao ponto de dizer que prefere o machismo em detrimento do feminismo. Ora, como pode uma mulher ser contra um movimento que luta pela igualdade de direitos? Que luta para que não sejamos espoliadas, estupradas, assassinadas…

“O mundo não evoluiu. A mulher ainda é vista como ‘algo’ de segunda classe”, afirmou o papa Francisco

O papa Francisco, cujo pontificado tem sido marcado por esforços para pôr fim a uma crise global de abuso sexual de crianças por clérigos católicos, disse (na terça-feira 05/02/19) estar comprometido a acabar com o abuso de freiras por parte de bispos, alguns dos quais têm usado as mulheres como escravas sexuais. O papa Francisco tem se mostrado preocupado com o papel da mulher em todo agir humano, conforme relata a seguir:

“É inegável a contribuição da mulher em todas as áreas do agir humano, a começar pela família. Mas reconhecê-lo é suficiente? Temos feito muito pouco pelas mulheres que se encontram em situações muito duras:desprezadas, marginalizadas e até reduzidas à escravatura. Devemos condenar a violência sexual que as mulheres sofrem e eliminar os obstáculos que impedem a sua inserção plena na vida social, política e econômica. Se considera que isto é justo, faz este pedido comigo: para que, em todos os países do mundo, as mulheres sejam honradas e respeitas, e seja valorizado a sua imprescindível contribuição social”.

Ficamos de cá torcendo para que Francisco seja um papa verdadeiramente revolucionário  e incite, não apenas a reflexão acerca dos direitos das mulheres, da investigação e  da punição dos abusos e crimes sexuais cometidos dentro da própria igreja, mas que também quebre tabus, paradigmas e imposições opressoras que subjugam as mulheres desde que o mundo existe.






Clara Dawn é romancista, psicopedagoga, psicanalista, pesquisadora e palestrante com o tema: "A mente na infância e adolescência numa perspectiva preventiva aos transtornos mentais e ao suicídio na adolescência". É autora de 7 livros publicados, dentre eles, o romance "O Cortador de Hóstias", obra que tem como tema principal a pedofilia. Clara Dawn inclina sua narrativa à temas de relevância social. O racismo, a discriminação, a pedofilia, os conflitos existenciais e os emocionais estão sempre enlaçados em sua peculiar verve poética. Você encontra textos de Clara Dawn em claradawn.com; portalraizes.com Seus livros não são vendidos em livrarias. Pedidos pelo email: [email protected]