Chernobyl, minissérie de cinco episódios coproduzida por HBO e Sky, estreou na televisão em meio ao fim de Game of Thrones. Ninguém parecia dar muito bola para ela. Até que a pandemia de coronavírus chegou,  e a dramatização inspirada na catástrofe nuclear ocorrida em 1986, na Ucrânia, ganhou rapidamente status de obra-prima, porque, mesmo que seja uma ficção inspirada em fatos reais, nos mostra o que acontece quando duvidados da ciência.

O desconhecimento científico é o que mais apavora em Chernobyl, que recentemente ganhou a nota mais alta da história do site IMDb – 9.7. A série mostra a insensibilidade das autoridades na época, sua lentidão em reagir e o tempo que levaram para reconhecer oficialmente o acidente e evacuar a área.

Estrelado pelo ator britânico Jared Harris como vice-chefe do principal centro de pesquisa nuclear da URSS e dirigido por Johan Renck, da Suécia, “Chernobyl” apresenta um relato contundente do acidente no quarto reator da estação nuclear que provocou precipitação radioativa em grande parte da Europa .

Autoridades indecisas e mentirosas

O pior acidente nuclear do mundo aconteceu em 26 de abril de 1986. Trinta pessoas foram mortas na explosão ou morreram logo após a exposição à radiação e milhares morreram de doenças relacionadas, embora o número exato permaneça em disputa.

As autoridades dizem que só será seguro para os seres humanos viverem em Chernobyl novamente em 24.000 anos. Filmado na Ucrânia e em uma usina nuclear desativada na ex-Lituânia soviética que se assemelha à usina condenada, a série de TV foi, para muitos de seus telespectadores russos, uma experiência emocional.

Ele despertou as memórias da infância e se concentrou no heroísmo dos cidadãos comuns, enquanto autoridades de alto escalão – incluindo o então líder soviético Mikhail Gorbachev – eram retratadas como indecisas e mentirosas.

O show foi feito “com tanto respeito e simpatia pelas pessoas, nosso povo soviético … E com tanto desprezo pelas autoridades que desprezavam seus cidadãos”, escreveu Ksenia Larina, apresentadora da estação de rádio Echo of Moscow, no Facebook.

Toda ficção de tragédia começa com alguém duvidando da ciência

Ainda no primeiro episódio, a cúpula de Chernobyl discute o que fazer, como tratar a explosão, o que sai e o que não sai. Depois, sabendo das reais proporções da tragédia, eles tentam minar a saída de informações, dos fatos. Mais adiante, lidamos com as decisões deles de quantos podem morrer, quem vai morrer e como provavelmente vão morrer.

Chernobyl nos mostra isso constantemente, a tragédia que pode ser, negar a ciência e suas descobertas. Não escutar a opinião de especialistas, trazer para posições de poder, pessoas completamente despreparadas, seja na burocrática União Soviética no século passado, seja no comando atual das nações. Provavelmente esses governos negacionistas, têm interesses também comerciais, disfarçados ou calcados pela ignorância. Não se trata de endeusar a ciência em detrimento de outras manifestações do pensamento crítico, mas não escutá-la ou, pior, silenciá-la, só pode trazer atrasos. A série serve como um exemplo histórico, prático e imediato desse problema.






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